Há certa lógica pragmática em nomeação de Trump para lidar com Putin

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan Nova Iorque
  • 14/12/2016 07h51
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WAS02 WASHINGTON (ESTADOS UNIDOS) 13/12/2016.- Foto de archivo tomada el 12 de mayo de 2011 del jefe de la petrolera ExxonMobil, Rex W. Tillerson, mientras comparece durante una vista del Comité de Finanzas del Senado sobre "incentivos fiscales de petróleo y gas y la subida de los precios de la energía" en el Capitolio, Washington DC (Estados Unidos). El Kremlin reconoció el 12 de diciembre de 2016 que el presidente ruso, Vladímir Putin, ha mantenido varias reuniones de negocios con el jefe de la petrolera ExxonMobil, Rex W. Tillerson, favorito para convertirse en el próximo secretario de Estado de EEUU. EFE/Michael Reynolds EFE/Michael Reynolds Rex W. Tillerson

Quem acompanha o meu trabalho, sabe da minha desolação com a era Trump que está começando e, de fato, o presidente eleito não decepciona com seus primeiros passos. Age conforme se esperava, comprando brigas e desafiando as convenções, como no seu flerte com a Rússia de Vladimir Putin e no repúdio às conclusões da CIA sobre envolvimento de hackers russos a seu favor na eleição de novembro.

No entanto, também quero desafiar as convenções ao destacar a pensata de um jornalista russo, apontando passos corretos de Trump, como na indicação do chefão da empresa petrolífera Exxon, Rex Tillerson, como secretário de Estado. Tillerson tem laços íntimos com Putin, já foi condecorado em Moscou e criticou as sanções ocidentais contra a Rússia por sua agressão na Ucrânia.

Pois bem, Leonid Bershidsky argumenta que uma nova política em relação à Rússia é necessária. Afinal, os últimos anos têm sido marcados por um confronto estéril que constrangeu o governo Obama e consolidou a agenda de Putin no mundo. Portanto, seria o momento de alguém como Tillerson, que conhece como poucos o núcleo do poder no Kremlin.

Qual é o balanço Obama? O presidente apoiou as sanções que machucaram um pouco o círculo de poder russo, mas não impediram que a divisão da Ucrânia se consumasse. O fundamental é que o cerco simbólico do Ocidente em torno de Putin contribuiu para que ele reforçasse um consenso doméstico a seu favor.

Imagine, os EUA são a única superpotência no planeta, mas a Rússia de Putin se comporta como se ainda fosse a outra. Faz o que bem entende na Síria e costura boas relações com tradicionais aliados americanos como a Turquia e a Arábia Saudita. A política americana é esquizofrênica. Clama por valores democráticos ao denunciar a Rússia, mas ignora a barbárie do aliado saudita.

Putin, que se lixa para democracia e moralidade, ridiculariza a inconsistência americana e dos seus aliados ocidentais. Neste ponto, ele está afinado com Trump, que tampouco se lixa para a necessidade de exportar os valores democráticos. Só pensa em exportar. O argumento de Bershidsky é justamente que chegou a hora de alguém como Tillerson, que também só pensa em valores, os valores das ações, não políticas, mas as dos investidores.

Trump e Tillerson são empresários pragmáticos, que só pensam em fechar negócios. Quem sabe, consigam uma aliança com os russos na Síria, que culmine na partilha do país, agora que não existe como despachar o ditador Bashar Assad do poder, pelo menos em Damasco e algumas áreas da Síria. A Ucrânia é o que é, dividida entre oligarcas. Talvez seja possível um acordo para impedir mais expansionismo de Putin na Europa Oriental.

Na sua conclusão, Bershidsky diz que gostaria de ver a Rússia aderir ao clube de democracias, com a queda de Putin. No entanto, os americanos simplesmente contribuem para a Rússia ir na direção oposta. O negócio, portanto, é aceitar Putin como um aliado de conjuntura, com base em considerações pragmáticas, tanto políticas, como econômicas.

Há uma certa lógica neste raciocínio e ele se ajusta ao presidente eleito. Afinal, para lidar com uma figura amoral como Putin quem seja faça sentido um amoral como Trump.

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