Há risco de guerra entre facções se alastrar pelo País

  • Por Jovem Pan
  • 06/01/2017 10h58
EFE Manaus

Tem sido muito comum nos comentários da internet uma análise superficial e bastante apressada do massacre dos presos em Manaus. Seria, no entendimento de uma parte da sociedade, um episódio de bandido matando bandido. Algumas pessoas chegam, vejam só, a ver isso como salutar ou até a comemorar.

Além de ser bastante estarrecedor que se comemore algo que configura a barbárie pura e simples, com imagens de cabeças arrancadas e corpos destroçados transmitidas de dentro dos presídios pelas redes sociais, a sociedade precisa entender os outros riscos envolvidos na guerra entre facções criminosas no País.

Esses grupos, entre os quais o Comando Vermelho, o PCC e a Família do Norte, nada têm a ver com aquela imagem popularizada em filmes como Cidade de Deus e Tropa de Elite, de traficantes encastelados em favelas, que frequentam bailes funk e atendem por apelidos até simpáticos, como “Dadinho” ou “Zé Pequeno”.

Essas organizações se sofisticaram. Têm estrutura, hierarquia e finanças compatíveis com as de grandes empresas – e empresas multinacionais, uma vez que têm tentáculos no exterior, sociedades com grupos criminosos de outros países e fazem transações transnacionais. Ou o Estado Brasileiro investe pesado em inteligência, na integração da polícia e no estrangulamento financeiro dessas facções, ou perderá essa guerra de goleada.

São reais as chances de um revide do PCC ao ataque que sofreu em Manaus. Revide não só para matar novos bandidos, veja bem, mas para aterrorizar a população e dar demonstrações de poder nas fronteiras e nas cidades. Mensagem interceptada por Whatsapp e atribuída ao comando do norte do PCC fala em dizimar os rivais da Família do Norte e em estabelecer uma luta contra o Estado corrupto, evidenciando a ambição desse grupo de estabelecer contornos narcoterroristas, como o dos cartéis da Colômbia nos anos 1990, do México de hoje, ou até mesmo das FARC.

Minimizar o problema, tentar descrevê-lo como um “acidente pavoroso”, como fez o presidente Michel Temer, ou uma matança de bandidos, são os principais erros que tanto o poder público quanto a opinião pública podem cometer.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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