As ideias golpistas e cheias de charme da Rede e de Marina Silva
Ainda não dá para saber se Marina Silva é a nova cara da velha esquerda, a velha cara da nova esquerda, a velha cara da velha esquerda ou só um amontoado de ideias confusas e conceitos mal digeridos. Acho que é só um amontado de ideias confusas e conceitos mal digeridos.
Para lembrar: seu partido patrocina duas ideias doidivanas, que fariam o país mergulhar no caos: antecipação de eleições diretas e transformação do atual Parlamento em Congresso Constituinte. A primeira ideia pode ser definida como um golpe. E a segunda também. Mas ela segue adiante, com seu ar de oráculo.
Memória rápida: ela atuou contra o impeachment de Dilma. Só aderiu quando já se tratava de algo irreversível. Em recente entrevista ao Estadão, disse coisas assombrosas, com ênfase, claro!, num convite para que o presidente Michel Temer… renuncie. Marina acha que fogo se apaga é com gasolina.
Logo de cara, lá vai ela a apontar a crise da velha política (sim, ela é a “nova”)… Diz que a Lava Jato está fazendo uma reforma política, que é preciso saber o que vai sobrar de cada partido para, então, se pensar um projeto de país. Sabem, leitores, o quer dizer “projeto de país”? Nada! Porcaria nenhuma. É o que as pessoas dizem quando não têm o que dizer.
O governo Temer conseguiu: 1: aprovar uma PEC de gastos que, quando menos, impedirá o Brasil de virar um Rio de Janeiro de dimensões continentais;
2: aprovar na Câmara a Medida Provisória do ensino médio, depois de enfrentar um cipoal de mistificações e desinformação;
3: aprovar a MP do setor elétrico, área especialmente devastada pelo governo de Dilma Rousseff, a dita especialista;
4: aprovar o projeto que desobriga a Petrobras de participar da exploração do pré-sal — e contratos já foram fechados sob os auspícios do novo texto;
5: aprovar a Lei da Governança das Estatais, que é o palco principal da farra;
6: apresentar uma boa proposta de reforma da Previdência, que vai, sim, enfrentar muita resistência;
7: no BNDES, ultima-se o levantamento do estrago petista, e o banco se prepara para retomar financiamentos.
E já tem o texto da reforma trabalhista. Atenção! No fim do Jornal da Manhã, anuncio, com exclusividade, os pilares da mudança.
O que é isso? Chama-se reforma de algumas coisas ruins que há no Brasil. “Projeto de país” é coisa de fascista de esquerda ou de direta, que acha que o povo é massa de manobra de experimentos.
Pior: Marina investe na farsa de que está em curso uma ação para debelar a Lava Jato. Olhem o resultado da operação e digam onde está essa tal ação. Como exemplo, recorre à votação das tais medidas contra a corrupção na Câmara. Parece defender o projeto original do MP, que abrigava ao menos quatro propostas… fascistoides.
Marina ou tenta ser profunda e é incompreensível porque as ideias se desconjuntam ou é clara, mas é rasa, quando diz que não pode imaginar, nos EUA, alguém descumprindo uma ação da Suprema Corte. Ela se refere à negativa da Mesa do Senado em atender à liminar de Marco Aurélio.
Quem compara tem de ir até o fim. Certamente, no sistema americano, um único juiz não depõe o presidente do Senado — que, no caso, é o vice-presidente da República… Pior: Marina acusa seis ministros do Supremo de terem desrespeitado a lei para manter Renan. É ignorância ou má-fé. A decisão de Marco Aurélio é que era ilegal.
Aliás, dona Marina, nos EUA, uma ação como aquela movida pela Rede jamais chegaria à Suprema Corte, especialmente porque assinada por um ex-assessor e ex-sócio de um ministro do Supremo. Refiro-me a Eduardo Bastos Furtado de Mendonça, cujo escritório ainda leva o nome de Roberto Barroso. Fica com cheiro de ação entre amigos. Marina pertence àquela categoria que acha que a Justiça é justa e independente só quando decide segundo o seu gosto.
A propósito: o amigo de Barroso moveu a ADPF sustentando que réu não pode estar na linha de sucessão. O pedido de liminar para afastar Renan, o segundo tempo da ação, só foi apresentado porque a turma ficou sabendo que Marco Aurélio estava disposto a aceitá-lo. Eis algumas coisas que, nos EUA, não acontecem. Ou seus protagonistas acabam em maus lençóis.
Indagada se é a favor ou contra a PEC do Teto, ela deu esta resposta formidável: “Em 2010, quando fui candidata pela primeira vez, propus que o aumento do gasto público seria o crescimento do PIB considerando a correção da inflação. É uma diferença básica desta proposta do governo”. Hein??? O quê? No caso de uma recessão de 3,5%, aconteceria o quê? Em vez de corrigir o valor nominal do Orçamento pela inflação, a gente passaria a faca até nesse valor, é isso?
Marina quer mudar a política brasileira. Deveria pensar melhor. Em que outro sistema político, em qualquer outro lugar do mundo, ela seria levada a sério?
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.