Imprensa dá enfoque errado à PEC da Bengala
Que me desculpem os companheiros da imprensa, mas tem se dado um enfoque errado, falso, na questão da PEC da Bengala.
A Câmara dos Deputados aprovou nesta terça uma emenda constitucional que amplia de 70 para 75 anos a idade dos ministros dos tribunais superiores, como o Supremo Tribunal Federal (além do TCU, TST, STJ, STM e TSE).
Esse era um velho sonho dos operadores do Direito no Brasil. A PEC existe e tramita desde 2005.
Tanto o juiz, quanto o advogado, quando o promotor, os operadores do Direito se tornam melhores na medida em que envelhecem. Porque o Direito é uma ciência que exige estudo diário, dedicação, análises de jurisprudências, doutrinas, leis, novas leis, etc.
Como uma bola de neve, à medida que a pessoa vai envelhecendo, estudando e lendo, ele soma conhecimentos. E, aos 70 anos, o homem moderno está ainda no vigor de sua capacidade de produção, principalmente no plano intelectual
De tal forma que essa PEC da Bengala, termo até pejorativo, na verdade reconforta e revaloriza os tribunais superiores no Brasil.
Acontece que a notícia é dada como se fosse uma perda de poder da presidente da república, já que ela é quem indica os ministros do STF. E ela poderia indicar vários ministros até o final de seu segundo mandato. Até 2018, se aposentariam Celso de Mello, Marco Aurélio Mello, Ricardo Lewandowski, Rosa Weber e Teori Zavascki, pois completam 70 anos.
Esse ato presidencial para indicar o candidato ao cargo dos ministros dos tribunais superiores é um ato construído na Constituição do Brasil por causa da interdependência e harmonia dos poderes. O Executivo indica, o Parlamento sabatina e o Judiciário se renova.
Exige-se que a pessoa tenha 35 anos, notável saber jurídico e reputação ilibada. Feita a indicação, aprovada a nomeação no senado após a sabatina e, afinal empossado, entra em cena um conceito que está sendo esquecido: a independência dos poderes. Artigo
2º da Constituição: São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
Ou seja, o ministro, depois de empossado, não tem nenhuma satisfação a dar nem ao Executivo que o indicou, nem ao parlamento, que o aprovou.
Isso me lembra muito as palavras finais de livro de Mika Waltari, “O Egípcio”, quando Sinuhe, grande cientista e médico do palácio imperial, foi desterrado pelo faraó Amenófis IV.
O médico fez trepanação (operação no cérebro) do pai do faraó e era seu amigo de infância.
Sinuhe constata: se eu me ajoelhasse e suplicasse, ele não me aplicaria essa pena, mas eu não vou fazer isso, porque a ciência não se dobra e não se curva diante do poder.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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