Institutos de pesquisas não assumem erros nas eleições
Reinaldo, o mea-culpa dos institutos de pesquisa o convenceu?
Qual mea-culpa? Não houve! Acompanhei atentamente as explicações dos institutos de pesquisa para os erros de percepção sobre a vontade do eleitorado e, confesso, não entendi absolutamente nada. Fiz este comentário ontem a noite no programa “Os Pingos nos Is”, e agora volto a ele. A conversa de que as pessoas decidiram mudar de ideia na última hora, com o devido respeito, é história da Carochinha. Como assim?
Então estamos com alguns problemas, e é a lógica elementar que tem de nos socorrer. É preciso mudar o intervalo de confiança e a margem de erro. Aí alguém diria: “Não, Reinaldo, para a hora do registro, margem e intervalo são aqueles; a gente não tem como avaliar o imponderável”.
Bem, então os institutos estão no melhor dos mundos, não é mesmo? Quando acertam, é sinal de que o eleitor decidiu não mudar de ideia. Quando erram, também acertam porque, afinal, não podem se responsabilizar pela instabilidade dos votantes.
A ser assim, vou montar um instituto, ora essa!, e vou começar a fazer pesquisas sem ouvir ninguém. Quando disseram, por exemplo, que haveria o risco de Dilma vencer no primeiro turno, e todo mundo lembra disso, euzinho afirmei no programa “Os Pingos no Is”, na Jovem Pan, escrevi no meu blog e disse na TV da VEJA que isso não iria acontecer. Os institutos até que me ajudaram. Nas três últimas eleições, eles sempre tinham previsto mais votos ao PT do que o partido depois obteria e menos votos aos tucanos. Tive a certeza de que não seria diferente desta vez. Eu só não antevi que o vexame seria tão grande.
Querem exemplos? Amigos gaúchos me dizem desde o início da campanha que José Sartori venceria a eleição. Ele ainda tinha 5% dos votos segundo os levantamentos. Se vai vencer, não sei. Mas ele chegou em primeiro lugar ― e com uma baita distância. O jornalista Clayton Ubinha, produtor de “Os Pingos nos Is”, viajou à Bahia ainda antes do início oficial da campanha e disse na volta: “O Rui Costa vai ganhar… Andei por lá…” Não era torcida, só registro. Manguei dele. Pois é… Ele também apostou que Aécio estaria no segundo turno quando os institutos davam ao tucano 14%… Então vamos criar o Vox Ubinha! Serei o investidor capitalista. Vamos cobrar muito caro!
Eu não estou dizendo, obviamente, que institutos devam endossar a percepção das pessoas. Mas me parece que eles têm de ser proibidos de errar mais do que a… percepção das pessoas, não é mesmo? Antes de a censura disfarçada de lei eleitoral encher o saco da Jovem Pan, a rádio sempre acertava o resultado de boca de urna simplesmente ouvindo o povo na rua. Agora não pode mais. É preciso, dizem, ter ciência. Um erro com ciência passa a ter aparência de seriedade, né? Vira coisa respeitosa! Ok apelar à ciência, mas não para ter o monopólio do erro.
Sim, o debate da TV Globo, no caso da eleição presidencial, visto por milhões de pessoas, pode ter feito diferença. Mas os institutos foram às ruas depois dele, ora essa! Aliás, uma nota a respeito: quando afirmei aqui que o tucano Aécio Neves tinha tido, de longe, o melhor desempenho no embate entre os três principais candidatos, fui acusado por idiotas disfarçados de jornalistas de estar expressando o meu gosto pessoal. Como todo mundo, faço, sim, as minhas escolhas, mas, neste trabalho, não confundo análise com torcida. O resultado das urnas está aí. E os idiotas, como sempre, fingem que não disseram idiotices.
Eu não estou demonizando os institutos nem sugerindo que devam ser censurados. Eu prefiro é que eles assumam o erro, que admitam que, desta feita, não entenderam o que estava em curso e que prometam submeter seus métodos a um teste de estresse. Bater no peito e cantar as vitórias quando acertam e atribuir a responsabilidade ao eleitor quando erram não é coisa de gente séria. Imaginem se um médico justificasse a morte de paciente afirmando que seu diagnóstico e o remédio recomendados estavam certos, mas o ex-vivente é que estava com a doença errada.
Institutos de pesquisa não podem dar desculpas mais esfarrapadas do que as de alguns políticos e as de alguns jornalistas.
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