Janot tem ataque de popularismo politicamente correto; entenda

  • Por Jovem Pan
  • 02/10/2014 14h07
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Reinaldo, quer dizer que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, teve um ataque de popularismo politicamente correto?

É, teve sim, ah que chatice! No Brasil, há um monte de gente favorável à liberdade de expressão desde que não seja contrariada. É o fim da picada ter de cuidar desse assunto quando o que está em pauta é uma fala de Levy Fidelix, aquele senhor que preside o tal PRTB e se candidata sempre para não ganhar nunca. Indagado no debate da TV Record sobre o casamento gay, disse lá uma porção de sandices. Mas não cometeu crime nenhum. A menos que a Constituição dos que o acusam seja outra. Diferente daquela que eu tenho aqui.

Relembro algumas de suas besteiras: “dois iguais não fazem filho”; “aparelho excretor não reproduz”; “o Brasil tem 200 milhões de habitantes. Se começarmos a estimular isso aí, daqui a pouco vai reduzir para 100 milhões. Vai para Paulista, anda lá e vê. É feio o negócio, né?”.

Pois não é que Rodrigo Janot, procurador-geral da República, resolveu ter um ataque de populismo politicamente correto, um populismo muito particular porque voltado para minorias de opinião, e determinou a abertura de uma investigação para definir se Fidelix cometeu algum crime? A partir dessa decisão, o candidato passou a ter 24 horas para apresentar explicações.

Leio na Folha que, para Janot, “ser contrário à união homossexual ou até mesmo contra os homossexuais é uma opinião protegida pela liberdade de expressão. Ele ponderou, contudo, que incitar o enfrentamento não deve ser tolerado”. Como é que é? Pois eu já acho o contrário: acho que não deve ser tolerado é que alguém seja contra homossexuais porque homossexuais. Ou contra heterossexuais porque heterossexuais. Ou contra negros porque negros. Ou contra brancos porque brancos. Ou contra católicos porque católicos. Ou contra evangélicos porque evangélicos. Se Janot disse mesmo isso, ele está confuso.

No comentário que fiz ontem aqui, houve quem me acusasse de ter omitido o que seria o trecho verdadeiramente homofóbico da fala de Fidelix. Eu não omiti nada, até porque publiquei o vídeo na íntegra com a fala dele completa. Mas eu reproduzo o tal trecho que dizem ser polêmico, vamos lá, disse ele:

“Então, gente, vamos ter coragem, nós somos maioria, vamos enfrentar essa minoria. Vamos enfrentá-los.”

Ele deu essa resposta no contexto em que se discutia o casamento, ao qual ele se opõe. Extrapolar e afirmar que ele está propondo um enfrentamento físico é um caso evidente de superinterpretação. É claro que se trata de um enfrentamento na esfera dos valores. Tenham paciência! Sugeriria ao procurador-geral que cedesse menos aos clamores de opinião para não gastar à toa o nosso dinheiro. Sempre que alguém disser, agora, que pretende enfrentar A ou B, estará falando de confronto físico? Aliás, doutor Janot, consulte o dicionário: em nenhuma acepção, “enfrentar” é sinônimo de partir para a porrada.

Mesmo Levy Fidelix sendo, digamos, destituído de maiores atrativos intelectuais, é o fim da picada tentar isolar a frase do contexto só porque, afinal, é preciso dar uma satisfação à militância gay. Ele também afirma no debate, ou não?, que, se a lei garante a união civil entre homossexuais.

Reitero o meu ponto de vista: na democracia, está assegurado o direito de dizer coisas idiotas. A militância gay e os patrulheiros politicamente corretos deveriam ser mais cuidadosos. São muitas as minorias no Brasil e no mundo. Imaginem se cada uma delas for criar agora a cartilha das coisas que não podem ser ditas. Eu repudio a intolerância dos intolerantes.E repudio também a intolerância dos que pretendem ter o monopólio da tolerância.

Há duas semanas participei de um debate com o psicanalista Contardo Calligaris na VEJA.com justamente sobre estes temas: liberdade de opinião, patrulha politicamente correta e censura. O vídeo está no meu blog, eu acho que vale a pena assistir.

 

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