Jérôme Valcke não está de todo errado; resta saber porque as obras da Copa saíram diferentes do planejado

  • Por Jovem Pan
  • 13/05/2014 13h12

Reinaldo, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, tem o dom de irritar muitos brasileiros. Você diz, no entanto, que muito do que ele diz faz sentido. É isso?

Infelizmente, suas intervenções nem sempre são muito simpáticas, mas ele tem estado mais certo do que errado. Nesta segunda, por exemplo, ele afirmou: “A Copa do Mundo é uma maneira de acelerar uma série de investimentos em um país. É fácil criticar a Fifa, é fácil usar a Copa das Confederações ou a Copa do Mundo para organizar manifestações. Mas se o alvo é a Fifa, está errado. Se o país se candidata à Copa do Mundo, é com a ideia de se desenvolver, a ideia não é destruí-lo”. Na mosca.

Ele também acerta quando diz que a Copa do Mundo pode deixar um legado positivo nos países. E talvez deixe no Brasil, ainda que bem menor do que se supunha. A questão é saber porque as coisas por aqui saíram tão diferentes do planejado.

Quando a gente se lembra que o Brasil teve que abrir mão de sua lei de licitações, criando uma legislação especial para conseguir realizar algumas obras, a gente se dá conta que algo estava e está muito errado entre nós.

A Folha publica nesta terça, há trinta dias da Copa, um levantamento das obras. O país cumpriu menos da metade do que se dispôs a fazer. Das 167 obras prometidas, só 68 estão prontas, ou 41%. Nada menos de 88, 53%, estão incompletas ou ficarão prontos só depois da Copa. 11 delas jamais saíram, nem sairão, do papel.

Que convenham, nesse caso cabe a pergunta: O que a Fifa tem a ver com isso? A resposta é óbvia: Nada. O problema é nosso, do governo e do povo brasileiros. Quando indagadas, as nossas autoridades têm as mais diversas, e às vezes disparatadas, desculpas. Até o excesso de chuvas é usado como justificativa em alguns casos.

Ora, é mesmo? O Brasil foi confirmado como a sede da Copa de 2014 no dia 30 de Outubro de 2007, há quase sete anos. E sua disposição de se candidatar data, pasmem, de 2003. Conhecem-se as cidades-sede da Copa, e foram 12 por exigência de Lula, então presidente da República, não da Fifa, desde Maio de 2009. Assim, o país esboçou sua pretensão há 11 anos, sabia que abrigaria o evento há quase sete e conhecia as sedes há cinco.

Antes de se preocupar com planejamento, tijolos, argamassa, recursos, essas bobagens, o governo petista se ocupou do foguetório eleitoral nas eleições municipais de 2008 e estaduais e federais de 2010. O mês de Junho de 2013 trouxe o susto para Dilma, o que era para ser apoteose virou fonte permanente de dor de cabeça. Muita gente começou a cobrar nas ruas obras de mobilidade padrão Fifa.

Ocorre que até a Fifa está cobrando que o Brasil faça uma Copa padrão Fifa. Até porque, no Brasil, nem a Fifa conseguiu ter um padrão Fifa.

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