Juan Manuel Santos é reeleito na Colômbia; entenda
Reinaldo, Juan Manuel Santos foi reeleito presidente da Colômbia. O que o mapa eleitoral revela?
Um país dividido. Num resultado até certo ponto surpreendente, dados os números do primeiro turno, o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, venceu o segundo turno da eleição presidencial. Com a apuração totalmente concluída, obteve 50,95% dos votos contra 45% de Óscar Ivan Zuluaga, seu opositor. Traduzindo: 7.816.986 votos contra 6.905.001 votos. No primeiro turno, Zuluaga venceu com 29,3%, contra 25,7% de Santos. Como explicar?
É preciso fazer algumas considerações prévias. Santos foi eleito presidente em 2010 com o apoio integral do ex-presidente Álvaro Uribe, de quem foi ministro da Defesa. Foi de Santos a decisão, por exemplo, de invadir o território equatoriano para matar o líder terrorista Raúl Reyes, das Farc. No poder, deu início a um processo de negociação com a narcoguerrilha, que se desenvolve em Cuba. Descontente, Uribe rompeu com o antigo aliado, criou um novo partido e fez Zaluaga candidato.
Embora Santos tenha bons números a oferecer na economia, a negociação com as Farc dividiu o país ― divisão que persiste, a julgar pelo resultado: Zuluaga se opõe frontalmente à negociação e exige a deposição de armas dos grupos guerrilheiros e a punição de seus líderes. Santos, antes o falcão, resolveu posar de pomba da paz. Isso lhe rendeu o apoio da esquerda colombiana, o que parecia impossível.
A esquerdista Clara López, que obteve 1.958.414 votos no primeiro turno, fechou com o presidente. O mesmo fez o prefeito de Bogotá, Gustavo Petro. Santos triplicou seus votos na capital: de 444.051 no primeiro turno para 1.337.349 no segundo.
Comparando-se, então, o mapa de votação dos dois candidatos com o mapa das áreas sob influência das Farc, percebe-se que a maioria da população que é potencialmente vítima dos narcoguerrilheiros votou contra o acordo político. Esse confronto já matou, em cinquenta anos, mais de 250 mil pessoas e provocou o migração de 5 milhões.
A Colômbia vive uma realidade política interessante. Embora o país abrigue as duas mais antigas guerrilha da América Latina, a esquerda é eleitoralmente fraca. Santos venceu a eleição com o apoio de esquerdistas, mas é um político conservador. Seu adversário, Zuluaga, é da direita uribista. Uma maioria estreita votou pela continuidade das negociações de paz. A responsabilidade que pesa agora sobre os ombros de Santos é gigantesca. Se naufragar, seu grupo está politicamente morto.
Não posso encerrar este texto sem chamar a atenção para um troço meio asqueroso. As Farc negociam a paz, mas sem depor as armas, é claro. Quem reduziu drasticamente seu poder de fogo foi a política de Uribe. De um exército de estimados 30 mil terroristas, foram reduzidas a menos de 8 mil. Seus principais líderes estão mortos. Mas as Farc ainda têm reféns, praticam sequestros, extorsões, assassinatos e tráfico de drogas. Ancorar um discurso na “paz” negociando com gente dessa espécie corresponde, na prática, a ceder a uma chantagem.
A maioria, no entanto, dos eleitores decidiu que assim deve ser, especialmente a maioria dos lugares em que a guerrilha não atua, como é o caso de Bogotá. A chance de que tudo dê errado é gigantesca.
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