“A lei tem ouvidos pra te delatar”
O que impressiona nesse dia atribulado no Brasil é a declaração de José Maria Trindade da tranquilidade que reina em Brasília.
Parece que a lista de Janot foi jogada no deserto da Arábia.
Foram vários ministros, os presidentes da Câmara e do Senado, cinco senadores, dois ex-presidentes, dois ex-ministros da Fazenda.
A imprensa parece ter criado uma expectativa que não bate com a frieza da lei.
Como são homens do ápice da pirâmide, é preciso uma ordem, autorização do Supremo, uma autorização para investigar.
O processo é silencioso, ele caminha para frente.
Temos muita gente presa com penas pesadas: Palocci, Eduardo Cunha, Delúbio Soares. Tem muita gente da alta República já em cana.
Uma música de Chico Buarque descreve a frieza da lei, mas essa lógica absoluta:
Se tu falas muitas palavras sutis
Se gostas de senhas sussurros ardís
A lei tem ouvidos pra te delatar
Nas pedras do teu próprio lar
Se trazes no bolso a contravenção
Muambas, baganas e nem um tostão
A lei te vigia, bandido infeliz
Com seus olhos de raios X
Se vives nas sombras freqüentas porões
Se tramas assaltos ou revoluções
A lei te procura amanhã de manhã
Com seu faro de dobermam
E se definitivamente a sociedade
só te tem desprezo e horror
E mesmo nas galeras és nocivo,
és um estorvo, és um tumor
A lei fecha o livro, te pregam na cruz
depois chamam os urubus
Se pensas que burlas as normas penais
Insuflas agitas e gritas demais
A lei logo vai te abraçar infrator
com seus braços de estivador
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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