Lideranças pró-impeachment passam a ser alvos do bullying de alguns jornalistas

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 14/12/2015 07h57
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Ele espera público menor Thiago Navarro/ Jovem Pan Kim Kataguiri

O pior cego, reza o ditado, é aquele que não quer ver. Era até este domingo. A partir de ontem, o pior cego é o que mente sobre aquilo que vê — e sobre o que não vê — para atender a uma ideologia, a um preconceito, a uma causa ou, pura e simplesmente, à metafísica influente burra e militante dos botecos onde se aprende que ser de esquerda é uma virtude — ou vá lá, endossar ao menos os valores de esquerda. Apesar de amplos setores da imprensa — e não que estes devessem ajudar, porque não é o seu papel —, o Movimento Brasil Livre e o Vem Pra Rua, em parceria com outros grupos pró-impeachment, mostraram ser possível levar perto de 100 mil brasileiros às ruas com uma semana, uma semaninha só, de mobilização.

E eles não têm aparelhos sindicais financiados com dinheiro público. E eles não têm movimento estudantil financiado com dinheiro público. E eles não têm milícias fascistoides financiadas com dinheiro público, a exemplo de MST e MTST. O Planalto diga o que quiser: sabe que os milhares deste domingo são muitos milhões. São dois terços, no mínimo, da população. No dia 16, as esquerdas vão para as ruas, sob a proteção subserviente desses mesmos setores da imprensa. O governo sabe que o barulho que farão será muito maior do que a sua real representatividade. O Brasil vê mais longe. Em síntese: o país que quer Dilma fora é maior do que vê. O Brasil que quer Dilma dentro é menor do que vê.

É espantoso aquilo a que se assistiu neste domingo. O MBL, por exemplo, passou a documentar as entrevistas, no que faz muito bem. A quase todos os veículos, Kim Kataguiri e Renan Santos tiveram de responder a perguntas sobre o AI-5, o Ato Institucional baixado pelos militares no dia 13 de dezembro de 1968, há 47 anos, e que arreganhou a natureza ditatorial do regime.

Cunha admitiu a denúncia contra Dilma no dia 2 de dezembro. Os movimentos pró-impeachment, compostos de pessoas que trabalham e mobilizam outros tantos que também ganham a vida com o suor de seu rosto, costumam marcar manifestações aos domingos para não criar embaraços adicionais à economia do país e à vida das pessoas. Ora, o domingo seguinte à decisão era dia 6. Em três dias, impossível organizar qualquer coisa. Escolheu-se o domingo seguinte: este dia 13. O próximo, dia 20, já estava excessivamente colado ao Natal. Por que diabos garotos e garotas na faixa dos 18 aos 30 anos, na média (há gente com menos e com mais), fariam uma homenagem ao AI-5? É uma ignomínia, é uma safadeza, é uma pulhice fazer essa ilação!

O Movimento Brasil Livre e o Vem Pra Rua, durante a ocupação do gramado do Congresso, expulsaram da sua área um grupo que defendia uma intervenção militar passageira. A maioria da imprensa preferiu ignorar o caso. Em reiteradas entrevistas, dezenas, centenas de vezes, os rapazes e moças deixaram claro que são contra qualquer interferência dos militares. Mas lá estavam os jornalistas cobrando que falassem de novo. E, desta feita, associando a questão militar ao… AI-5!

A pauta não é apenas safada. É ignorante também. O AI-5 implicou manietar o Congresso, torná-lo irrelevante, eliminá-lo do universo das decisões. Quem, hoje, defende o impeachment, ora vejam, por definição, está a pedir altivez do Congresso na sua relação com o Executivo. Os que pedem o impeachment se opõem é ao AI-13.

Não foi só isso. Os organizadores do protesto foram abordados por representantes da SPTrans, da Guarda Civil Metropolitana e da CET. Qual era o busílis? Ora, as manifestações na Paulista estariam agredindo o direito daqueles que querem usar a avenida como lazer, segundo a política abraçada pelo digníssimo alcaide. Sim, senhores! Até ciclistas dispostos a sair na porrada foram mobilizados. Independentes como mercenários, vociferavam contra o que seria uma usurpação. Como Fernando Haddad já expulsou os pobres da Paulista aos domingos, agora seus ciclofascistas também querem eliminar os que não rezam pela cartilha do PT e do prefeito.

E, ora vejam, havia jornalistas fazendo uma espécie de segunda voz à “reivindicação”. Quanto foi que vocês viram a imprensa fazer coro com CET e Guarda Civil Metropolitana contra protestos na Paulista?

A emergência de movimentos de inequívoco apelo e penetração popular, como o MBL e o Vem Pra Rua, que, não obstante, não têm uma agenda de esquerda, deixa a imprensa sem discurso. Os jornalistas, para cumprir a metafísica dos botecos, querem pespegar neles a pecha de reacionários; bem, eles não são. Querem pespegar neles a pecha de violentos; bem, eles não são. Querem pespegar neles a pecha de defensores da ditadura militar; bem, eles não são. Querem pespegar neles a pecha de adversários da pluralidade e da diversidade; bem, eles não são.

Restou acusá-los de adversários dos ciclistas — o que, de resto, eles também não são.

De fato, há 47 anos, no dia 13 de dezembro de 1968, uma camarilha achou que poderia eliminar a oposição, os adversários, os que não vergavam a cerviz. Os que convocaram as manifestações deste domingo encarnam o melhor espírito daqueles que organizaram a resistência pacífica ao AI-5 e que foram vitoriosos. Os herdeiros intelectuais dos que escolheram o terrorismo estarão nas ruas no dia 16 para defender o roubo virtuoso, a pedalada virtuosa, o assalto institucional virtuoso.

Os que foram fazer bullying com o MBL não sabem. Mas dia 13 de dezembro também é o Dia do Cego e o Dia do Oculista. Além de ser dia de Santa Luzia, a protetora dos olhos.

O pior cego é o que mente sobre aquilo que vê.

O pior cego é o que mente sobre aquilo que não vê.

Para encerrar: que os chefes de redação não se acomodem no conforto de que, se tanto MBL como petistas reclamam da imprensa, então é sinal de que esta escolheu a virtude. Não!

Pode ser apenas um sinal de que ela está como o desgraçado de I Juca Pirama, o poema de Gonçalves Dias: “Rejeitado da morte na guerra/ rejeitado dos homens na paz”. O fato de que se possa desagradar a dois lados que disputam uma narrativa não implica que se esteja contando uma boa história. Ou a verdade.

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