Limite entre humor e deboche é uma linha tênue

  • Por Jovem Pan
  • 13/01/2015 15h17
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EFE Charlie Hebdo escolhe para capa uma caricatura de Maomé segurando cartaz escrito "Je suis Charlie"

O limite entre o humor, o deboche e o insulto, é uma linha tênue, uma fronteira delicada. O debate suscitado pelo Charlie Hebdo deixa isso claro.

Há pessoas que náo suportam a sátira, a caricatura, as charges… E entendem qualquer brincadeira que afete suas crenças ou cultura como uma afronta, uma ofensa. Em algumas comunidades, de culturas e religião mais conservadoras, a tolerância náo passa pelo riso ou pelo bom humor.

Às vezes, até dentro de uma mesma família há divergências. Lembro por exemplo, de uma charge muito engraçada que vi nas redes sociais sobre a questáo dos 20 centavos, na mudança da tarifa de transporte em SP, que ocasionou as Jornadas de junho.

A charge foi publicada logo depois de todas aquelas indagações sobre os motivos das manifestações de rua e após incansáveis debates sobre a insatisfação popular, sobre o mal humor geral.. A charge em questão mostrava 4 rabinos erguendo um cartaz com os dizeres: é pelos 20 centavos, sim! Quando vi a charge, caí na gargalhada como boa judia que sou e que sabe rir de si mesma, educada pelos filmes de Woody Allen. Compartilhei a charge com um monte de gente inclusive a família.

Meu irmão não viu graça nenhuma e se sentiu profundamente ofendido. Para ele, a charge zombava do costume judaico de poupar dinheiro e espalhava o preconceito contra o nosso povo. Após o atentado ao Charlie Hebdo, um site judaico jewpop e a revista jesuíta Etudes, em solidariedade, publicaram charges variadas dos jornalistas do Charlie, que debochavam do Papa e assuntos judaicos variados. Algumas muito boas, outras terríveis e de mau gosto.

Vemos que zombar do Islã implica em grandes riscos e que brincar com o profeta Maomé será mal interpretado. Tolerância é um verbete desconhecido no fundamentalismo, que dirá o senso de humor! Mas nada justifica a violência e as mortes, nada! Em nome da liberdade de expressão e de um estado laico, que não mistura religião e fanatismo, com a arte e os traços do cartoon, eu lembro Voltaire “Posso não concordar com uma só palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las”.

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