Todo mundo deveria ler Machado de Assis.
O Vem Pra Rua deveria ler Machado de Assis.
O MBL deveria ler Machado de Assis.
Eu sou um chato. Recomendo Machado de Assis para as minhas filhas, para os políticos, até para os meus médicos. Vale dizer: até quem cuida de mim tem de ler… Machado de Assis. Eu mesmo preciso voltar mais a Machado de Assis. Às vezes, me descuido dele, deixo-me levar por paixões e me esqueço de fruir o lado ridículo da vida. Mas volto.
É de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” que me vem a frase: “Deus te livre, leitor, de uma ideia fixa; antes um argueiro, antes uma trave no olho”.
Pois é. Os ditos “movimentos de rua” precisam tirar do olho um argueiro, um cisco. Precisam se livrar de uma trave, que lhes compromete a visão e os torna reféns e caudatários de quem enxerga muito menos do que eles. Refiro-me aos tais “protestos de rua”, pelos quais clamam as redes sociais.
Sim, é complicado, eu sei, quando um dos grupos se chama “Vem Pra Rua”, e o outro se denomina “Movimento Brasil Livre”. Livre do quê? Qualquer que seja a resposta, supõe ir à praça. O protesto de rua se tornou uma espécie de fetiche. Ou, então, estivessem em Roma, VPR e MBL convocariam a Marcha das Vestais. Elas desfilavam, intocáveis e intocadas (virgens que eram), contra eventuais iniquidades.
Por que isso?
Os procuradores e setores de esquerda, especialmente os incrustados na imprensa, inventaram um tal complô contra a Lava Jato. Fosse um filme, os personagens estão dados: Michel Temer, Moreira Franco, Eunício Oliveira, Renan Calheiros, Edison Lobão, Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e, bem, em algumas listas, também eu: sim, Reinaldo Azevedo! Eu estaria tramando contra a Lava Jato.
Muito bem! Os personagens são esses. Mas qual o enredo? Uma vez definido, qual é o roteiro? Qual é a sequência de cenas? Em que momento, entra Michel, o próprio? E como ele pode ferrar a Lava Jato? E Eunício? E os outros? É evidente que nem VPR nem MBL têm resposta para essas questões, não é? Afinal, o complô não existe.
Ao ceder a essa gritaria, infelizmente, esses movimentos aceitam passivamente a condição de massa de manobra do lado paranoico da Lava Jato e, obviamente, das esquerdas. Com um pouco mais de esperteza, adeririam ao protesto do dia 16 de março, caso ele ocorra. A sorte é que essa esquerda de rua não é exatamente inteligente — mas a de gabinete é. E já sentiu o cheiro de carne queimada.
Rua como fetiche? É isso mesmo! Peguemos a soma de motivações dos dois principais movimentos, e não dá para saber por que diabos, afinal, o protesto está sendo convocado. Contra a impunidade? De qual impunidade eles falam? Em favor da reforma da Previdência, da reforma trabalhista, da revisão do Estatuto do Desarmamento, da demissão de Moreira Franco…
Em que vai resultar algo do gênero? Apenas em mais demonização da política, para a felicidade e gáudio de especuladores e oportunistas que, tendo previsto a queda de Michel Temer, agora precisam entregar o prometido.
Infelizmente para os teóricos da conspiração e felizmente para o bom senso, Temer nada pode fazer contra a Lava Jato.
Infelizmente para os teóricos da conspiração e felizmente para o bom senso, Eunício Oliveira nada pode fazer contra a Lava Jato.
Infelizmente para os teóricos da conspiração e felizmente para o bom senso, nem o Edson Lobão nem os outros Lobos Maus nada podem fazer contra a Lava Jato. Isso é invenção da turma de Chapeuzinho Vermelho, que, no momento, arrasta a de Chapeuzinho Verde-Amarelo.
Fiquem tranquilos. Ninguém segura a Lava Jato. O que quer que aconteça com o Brasil será sob os auspícios da Lava Jato.
Finalmente, o Brasil encontrou o seu imperativo categórico.
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