A lógica do terror e suas estratégias contaminaram o juízo da diplomacia ocidental
Reinaldo, nova trégua entre Israel e o Hamas. Alguma luz nas trevas?
Quem sabe? Um pouco de racionalidade na loucura? Embora não tenha dado ainda a operação “Margem Protetora” como encerrada, Israel retirou de Gaza todas as suas tropas terrestres, antes ainda da entrada em vigor do cessar-fogo de 72 horas negociado pelo Egito, com o qual com concordaram tanto as forças dos movimentos terroristas Hamas e Jihad Islâmica como as de Israel. A trégua teve início às 8h desta terça ― 2h em Brasília. Representantes dos extremistas palestinos já estão no Cairo, para onde rumarão também negociadores israelenses. Os egípcios tentam fazer da trégua o começo de uma negociação de paz ― ao menos para o conflito de agora. Israel anunciou que destruiu os túneis do Hamas, mas não dá como concluída a tarefa: “Ainda temos muitas missões para cumprir”, disse o porta-voz militar, Moti Almoz.
Cresce a pressão de países europeus contra Israel. O governo da Grã-Bretanha afirmou que pretende rever seus contratos de venda de armas e artefatos militares, embora não tenha falado em suspendê-los. Já o governo da Espanha anunciou a suspensão mesmo, embora o volume negociado seja irrisório. O governo francês, por sua vez, afirmou que é preciso parar com o “massacre” na Faixa de Gaza.
Já tratei do assunto aqui muitas vezes e não mudei de ideia porque não há fatos que o justifiquem. É claro que uma tragédia está em curso em Gaza. A questão é saber o que o governo israelense poderia ter feito para evitá-la. Alguém dirá: “Basta suspender o bloqueio a Gaza”. É mesmo? Perguntem por que o islâmico Egito não faz a mesma coisa. A questão de fundo é saber o que o Hamas fará se e quando ele for suspenso. Hoje, é fácil saber: iria se armar ainda mais.
Pode-se ir mais longe: “É preciso acabar com os assentamentos na Cisjordânia”. Salvo engano, o Hamas não quer apenas a Cisjordância e Gaza livres da presença judaica, mas toda a terra que eles consideram a grande Palestina ― e isso inclui o Estado de Israel. O grupo só foi criado, diga-se, e optou pela ação terrorista porque se opunha e se opõe a qualquer forma de negociação com o “inimigo”.
É claro que ser “pacifista” em situações assim é sempre o mais fácil, não é? Como esquecer que Chamberlain foi saudado por milhares nas ruas quando voltou a Londres, depois de assinar com Hitler o tratado de Munique, em companhia do francês Daladier. Dois “pacifistas” em 1938. Churchill disse, então, uma das grandes frases daquele tempo: “Entre a desonra e a guerra, escolheram a desonra e terão a guerra”. Não estou comparando as duas situações. Só estou apelando a um fato extremo para exemplificar que nem sempre o que parece bom no momento é o mais desejável.
Eu defendo, é evidente, a existência de dois estados na área, o judeu e o palestino. Intransigências terão de ser vencidas de lado a lado. Ocorre que o terrorismo não é uma intransigência apenas: trata-se de uma forma de manter o permanente estado de guerra, que garante o status quo dos terroristas. A grande loucura do nosso tempo nessa questão está no fato de a lógica do terror ― e suas estratégias ― terem contaminado o juízo da diplomacia ocidental.
Poucos se dão conta de que o que se pede a Israel, hoje, no terreno militar, é que atue menos, o que só se pode fazer à custa de mais vítimas israelenses. Que governo faria essa opção? É precioso negociar e pôr fim à incursão à Gaza? É, sim! Mas o que é que se vai exigir dos terroristas?
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