Lula: poodle na sala com Moro; rottweiler no palanque
Mais uma vez, Luiz Inácio Lula da Silva não sabia de nada. Antes foram Delúbio Soares, Silvio Pereira, José Dirceu e os “malfeitos” do mensalão. Depois, os “aloprados” do dossiê contra os tucanos em 2006. Agora, o triplex: sua mulher, Marisa Letícia, a despeito de “odiar” praia, visitou o apartamento no Guarujá mais de uma vez, desejava adquiri-lo para “investimento”, mas não conversava com o marido sobre isso, nem sobre a eventual troca de uma cota de unidade simples pelo triplex.
“Eu não sei” foi a frase mais dita por Lula em suas cinco horas de depoimento diante do juiz Sergio Moro. Semblante crispado, nervosismo patente em cacoetes como cofiar o bigode, abrir e fechar compulsivamente as pernas dos óculos de leitura, beber sucessivas garrafas de água, folhear (sem ler) o calhamaço de papel à sua frente e arrumar o nó na gravata, como se o tivesse apertando, eram gestos a indicar um animal político fora de seu hábitat.
Mas embora não tenha conseguido transformar o interrogatório num comício, como fizera em seu primeiro depoimento como réu, em Brasília, Lula teve seus momentos. Ao dizer a Moro que, por ser quem é, só poderia frequentar a praia no Guarujá “às segundas ou na quarta-feira de Cinzas”, ao perguntar ao juiz se não sabia se ele já tinha enfrentado um vendedor de imóveis ou ao pintá-lo como um “jovem” sem paciência com um “velho”, estava lá a raposa dos palanques.
Mas isso pouco ou nada pode ajudar a situação jurídica de Lula. Nesse campo, o que se viu, depois de meses clamando por “provas”, foi o ex-presidente tergiversar. Diante de documento de 2004 de opção de compra do apartamento, apreendido em seu apartamento em São Bernardo, chegou a insinuar que o papel pode ter sido “plantado”. Flagrado em contradição sobre as circunstâncias das visitas ao triplex, de novo recorreu a dona Marisa para deixar sob sua responsabilidade toda a transação do imóvel. As inconsistências da defesa e o truque de terceirizar para alguém que morreu e, assim, não é mais parte do processo não parecem ser um caminho jurídico seguro para alguém que tem um séquito de advogados à disposição e armou um circo político para posar de vítima de perseguição. Diante das câmeras, o Lula bravateiro deu lugar a outro, acuado e hesitante. Entende-se a celeuma em torno do ângulo de filmagem do depoimento.
Assista aos comentários de Vera Magalhães no Jornal da Manhã:
O advogado Cristiano Zanin Martins, “no seu afã de aparecer”, entregou logo no começo da audiência a estratégia da defesa de atribuir todas as decisões, todas as responsabilidades a dona Marisa.
Vera Magalhães comenta ainda, no vídeo acima, que a ideia de Marisa como investidora não para em pé. A jornalista, que cobriu a política em Brasília por dez anos, lembra que, ao requisitar frequentemente uma entrevista com a então primeira-dama para fazer um perfil, sempre era recusada pois dona Marisa era “reclusa” no Palácio do Alvorada.
“Ela gosta de cozinhar, cuidar dos netos, do jardim”, diziam os assessores. O próprio Lula sempre havia apontado a mulher como alguém que lhe garantia: “cuida do Brasil, que eu cuido da retaguarda”.
Marisa Letícia nunca foi pintada como alguém que fosse responsável pelos investimentos da família.
No segundo vídeo, Vera descreve dois Lulas nesta quarta-feira em Curitiba: o poodle dentro da sala com Sergio Moro e o rottweiler no palanque. Assista:
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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