Machado grava Renan: além de especulações, nada relevante que tenha impacto no impeachment

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 25/05/2016 10h43
Brasília - O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), anunciou há pouco a decisão de manter o trâmite do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff no Senado. Renan decidiu ignorar a decisão do presidente em exercício da Câmara dos Deputados, Waldir Maranhão (PP-MA), que anulou a sessão da Câmara que aprovou a continuidade do processo.Deputados,Waldir Maranhão (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil) Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil Renan Calheiros

Ai, ai… Agora vieram a público, também em reportagem da Folha, trechos de conversas entre Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, investigado na Operação Lava Jato, e Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado. Quem, vamos dizer assim, deu à luz o material? Ora, o próprio Machado, o Gravador-Geral da União.

A exemplo do que se ouviu na gravação feita com o agora somente senador Romero Jucá (PMDB-RR), que perdeu o cargo de ministro, percebe-se um Machado atraindo a sua vítima para a armadilha. E Renan também cai ou quase, já que a conversa não chega a ser comprometedora para quem não ocupa cargo no governo. Ocorre que, de novo, confissão de crime não há.

Vamos lá. Renan evidencia o desejo de mudar o estatuto da delação premiada. Para ele, quem está preso não poderia fazer esse tipo de acordo. Também o presidente do Senado fala em negociar com o Supremo alguma forma de transição no pós-Dilma.

Muito bem! Renan relata uma conversa que teria mantido com Dilma, que lhe revelara contato com sócios de veículos de comunicação. A ora presidente afastada teria reclamado da cobertura jornalística a João Roberto Marinho, vice-presidente institucional e editorial do Grupo Globo. Este teria dito à petista que nada havia a fazer. Otavio Frias Filho, diretor de Redação da Folha, teria reconhecido alguns exageros na cobertura da Lava Jato. E só.

Machado e Renan falam ainda sobre o potencial explosivo para Dilma de uma possível delação premiada da Odebrecht, que “iria mostrar as contas da presidente”. Para Machado, “do Congresso, escapam uns quatro ou cinco”.

Sei que a muitos pode parecer decepcionante o que vou dizer agora, mas é fato: não há nada demais na conversa além de especulações impotentes de pessoas que sabem que estão sob investigação. Ficam fazendo conjecturas sobre saídas, e ninguém sabe o que fazer.

Uma nota curiosa da conversa. Machado xinga Delcídio do Amaral porque estaria gravando Deus e o mundo para colher provas que fossem úteis à sua delação. Naquele exato momento, ele próprio fazia a sua gravação para levar seus ex-parceiros à forca. Leiam o diálogo: é Machado quem insiste no tema do suposto acordão que livraria a cara de todos. Fez isso também com Jucá.

Algo de bom nisso tudo? Sim! Acordo não houve. E todos estão muito enrolados. Michel Temer é presidente e, nesta terça, mais uma vez, reafirmou seu compromisso com a independência da Lava Jato.

Se alguém imaginou que essas gravações poderiam, vamos dizer, reverter a onda pró-impeachment, calculou mal.

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