Macron agora é um dos líderes de uma Europa desgastada
Esta segunda-feira, 8 de maio, é o Dia da Vitória, o fim da Segunda Guerra Mundial na Europa. Dia de celebrações pela derrota do nazismo. Da destruição, renasceu uma Europa menos tribal (e mais burocrática), que na base de erro e acerto faz um esforço nobre para aprender as lições de uma medonha primeira metade do século 20.
No 7 de maio de 2017, Emmanuel Macron consagrou-se vitorioso nas eleições francesas com 65% dos votos, 30 pontos à frente da extremista de direita Marine Le Pen. Aos 39 anos, Macron agora é um dos líderes de uma Europa desgastada, desorientada e, na minha expressão, cansada da paz, ao lado da alemã Angela Merkel.
Sim, a Europa sente os efeitos perversos do sucesso do seu modelo de harmonia e prosperidade. Dificil preservar o que foi conquistado nos últimos 70 anos. Difícil seguir adiante com a mesma receita. Reformar é preciso, pois o projeto europeu e a globalização resultam em custos para alguns setores sociais e acarretam um necessário preço para a identidade nacional.
Macron é um dique de contenção das ondas populistas, antieuropeístas e antiglobalização representadas por gente mais incoerente como Donald Trump e por gente mais articulada como Marine Le Pen. A candidata da Frente Nacional teve menos votos do que se esperava no domingo, mas com a marca de 34% ela conseguiu o dobro do obtido por seu pai, o execrável Jean Marie Le Pen em 2002, quando seu partido ainda assumia obscenamente suas raízes fascistas e antissemitas.
Marine Le Pen é uma extrema direita moderna, que tenta polir suas arestas mais cortantes e vergonhosas. Em 7 de maio, converteu-se na indiscutível líder da oposição francesa. Já Macron é o mensageiro de uma terceira via moderna, ainda confusa, que tenta conciliar posturas mais conservadoras em economia e mais liberais nas questões sociais.
O presidente eleito precisa urgentemente unir os franceses, trazer empregos para uma juventude desalentada e mostrar que uma saudável e segura diversidade é o antídoto para o terror islâmico e não o veneno da xenofobia. Combater o terror não deve ser confundido com o cerco demagógico de uma religião ou de imigrantes.
Com os partidos tradicionais de esquerda (o Socialista) e de direita (Os Republicanos) derrotados no primeiro turno, o 7 de maio foi o embate entre a extrema direita e o líder de um movimento centrista criado no ano passado. A novidade Macron é recebida com alívio e ceticismo, mas também merece um voto de esperança. Após Brexit e Trump, a ordem liberal global estava por baixo. Com Macron, existe um difuso rejuvenescimento, para não dizer regeneração dos princípios de abertura, tolerância e internacionalismo.
Macron foi um dique de contenção dos piores instintos de intolerância, mas está diante de imensos obstáculos como a paralisia social e econômica na França, a dificuldade de montar um governo funcional e a dureza que será coabitar com os partidos tradicionais na Assembleia Nacional a ser escolhida em junho, além ainda de encarar esta febre populista.
Ontem, Macron venceu. Hoje é o Dia da Vitória na Europa. Amanhã, a guerra continua para o presidente eleito e para uma União Europeia ferida.
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