Macron, o necessário muro de contenção na França

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan Nova Iorque
  • 24/04/2017 07h29
EFE/Ian Langsdon e Christophe Petit Tesson Marine Le Pen e Emmanuel Macron devem ir para o segundo turno

O desfecho do primeiro turno da eleição presidencial francesa no domingo merece um suspiro de alívio, mas nada de complacência. O avanço do centrista Emmanuel Macron para o segundo turno em 7 de maio, acompanhado pela extremista de direita Marine Le Pen é o cenário quase ideal.

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Pena que a candidata de um partido com raízes fascistas não tenha sido colocada no seu devido lugar, ou seja, fora do segundo turno, mas Marine Le Pen é uma realidade com seu ressentido discurso nacionalista contra imigrantes, contra a Europa, contra globalização, a favor de Vladimir Putin e a favor da intolerância islamofóbica.

Esta agenda extremista mostra que o primeiro turno domingo foi mais do que uma eleição francesa. Foi um referendo sobre o futuro da Europa e a identidade da civilização ocidental. No final das contas, para mim é mais do que um duelo entre globalistas e nacionalistas; é entre a luz e a escuridão.

Macron, um centrista eclético no seu programa, mas nada vago no seu compromisso com a Europa e a tolerância, mostra que existe um vigor meio desesperado para conter a onda nacionalista e nostálgica que conseguiu vitórias em 2016 com o Brexit e Donald Trump.

Na verdade, Macron é uma mistura de muro de contenção do extremismo e de pontes para uma sociedade mais aberta que repudia o histerismo e o discurso apocalíptico de Marine Le Pen, por sinal, endossada por Trump, o demagogo dos muros.

A ascensão do noviço Macron mostra o descrédito dos partidos tradicionais, a destacar o Socialista do presidente François Hollande. Basta ver, o espetacular desempenho do extremista de esquerda Jean Luc Mélenchon, que é avesso tanto a Marine Le Pen como a Macron, superando com folga o candidato socialista Benoit Hamon.

As projeções mostram que os eleitores de Mélenchon ainda preferem o candidato centrista por boa margem, mas uma parte significativa pode simplesmente não votar em 7 de maio e uma pequena parcela deve se bandear para Marine Le Pen.

Já a base do candidato bem conservador François Fillon, que endossou Macron, prefere o centrista no segundo turno, mas uma parcela expressiva deve cravar o voto em Marine Le Pen.

Em princípio, não devemos duvidar da vitória de Macron em 7 de maio, mais em razão das posições extremistas de Marine Le Pen do que de suas virtudes. Mas nada de cochilar, após este dominical suspiro de alívio.

Se eleito, Macron precisará reformar a França, e com urgência. Em caso contrário, seu muro de contenção poderá ser varrido pelo extremismo de direita e de esquerda na eleição de 2022.

Jornal da Manhã

Caio Blinder também comentou a eleição francesa e as perspectivas europeias e mundiais no Jornal da Manhã desta segunda-feira:

“Duas semanas são uma eternidade política, mas a a eleição de Le Pen seria uma surpresa ainda maior que Trump e Brexit”, diz Blinder, apontando os números das pesquisas e projeções. “Seria absurdo, algo bizarro”.

Ele lembra que a classe política francesa decidiu fazer fileiras de uma “frente nacional” republicana e que “a eleição detonou o velho sistema partidário francês”.

“A diferença na França não é entre esquerda e direita, mas entre isolacionismo, o ideário da provinciana Marine Le Pen, que quer erguer os muros, enquanto Macron quer multiplicar as pontes”, avalia o correspondente, lembrando que isso se relfete no cenário internacional.

Blinder esclarece ainda que “ironicamente, a própria eleição do Trump foi um alerta para a Europa”, tanto na derrota de Geert Wilders na Holanda, quanto na projetada vitória de Macron na França.

Lembrando que Emannuele Macron não tem representação no Congresso francês, Blinder diz: “É importante ver como Macron vai construir uma base de apoio legislativo para sua base centrista”.

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