Maia: o melhor é ilegal. Ou: Esquerda na Ancine e no STF

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 30/01/2017 08h50
Brasília- DF- Brasil- 18/08/2015- Ordem do dia para análise e discussão da proposta que reajusta o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) pelo índice da poupança (PL 1358/15). Dep. Rodrigo Maia (DEM-RJ) Foto: Gustavo Lima/ Câmara dos Deputados Gustavo Lima/Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (DEM) - AGCMR

Já escrevi aqui tantas vezes e reitero: acho que o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) tem sido um bom presidente da Câmara, ainda que eu discorde disso ou daquilo. Mais: penso ser ele, de longe, o melhor dos três postulantes até agora conhecidos — e isso pode mudar até o dia da votação, 2 de fevereiro. Os outros dois são Jovair Arantes (PTB-GO), que tem a simpatia de parte do Centrão, e André Figueiredo (PDT-CE).

Uma nota: Figueiredo já atua na Câmara como um braço do pré-presidenciável Ciro Gomes.

Outra nota: muito se especula se Ciro e o PT marcharão juntos em 2018. O ex-governador do Ceará adoraria contar com o apoio explícito de Lula na hipótese de o petista não se candidatar, esteja este preso ou solto. Se vão marchar, não sei. O fato é que o PT não quis saber até agora de Figueiredo. Parte dos companheiros queria mesmo era apoiar Maia. Agora, fala-se em candidatura alternativa. Assim, uma síntese: por enquanto, à parte mudança de última hora, falhou a primeira oportunidade de aliança entre Ciro e o petismo. Sigamos.

Jovair Arantes já foi cristianizado, abandonado, largado às traças, pelo chamado Centrão. O PSD, por exemplo, aderiu quase todo à candidatura de Maia, que conta, como se sabe, com o apoio do DEM (seu partido), PMDB, PSDB, frações as mais variadas do Centrão e também das esquerdas. O PCdoB é hoje o “rodriguista” mais convicto. O PT, deixada a questão para a maioria da bancada, migraria também para o atual presidente da Câmara. É que a esquerda do partido gritou. E o próprio Lula demonstrou insatisfação.

Com apoio também das esquerdas, Maia caminhava para uma eleição no primeiro turno. Se o PT lançar outro nome ou migrar para Figueiredo, aí se tem a chance de um segundo turno.

Qual é a questão do petismo com Maia, caso ele passe pelo crivo do Supremo? Bem, ele pertence a um partido que os companheiros chamam “de direita”. Também apoiou o impeachment de Dilma, que os vermelhos chamam “golpe”. Pois é… Mas o PCdoB deixou essas coisas de lado. É uma tradição do esquerdismo de origem stalinista se juntar ao que chama “adversários históricos” ou “de classe” em busca de alguns benefícios. Benefícios para quem? Ora, no passado remoto, respondia-se: “Para os oprimidos”. Hoje em dia, o PCdoB quer mesmo é alguns cargos.

Flertando com a esquerda Rodrigo Maia tem sido compreensivo com a pauta das esquerdas. Querem um exemplo? Manoel Rangel, do Comitê Central do PCdoB, dá as cartas na Ancine (Agência Nacional de Cinema) desde 2006. E sua influência ali já era grande antes disso. Sim, senhores! Um dos esforços de Maia em favor do PCdoB tem consistido justamente em manter a agência como um aparelho do partido. Vale dizer: o PCdoB que esgoelava “golpe”, “golpe”, “golpe” — e quem não se lembra das delicadezas de Jandira Feghali (RJ)? — agora se pendura em Maia para manter a boquinha. Ou melhor: a Ancine já é uma bocona.

E é bom lembrar que o PCdoB não economizou artilharia. Jandira chegou a acusar o então deputado Roberto Freire, hoje ministro da Cultura, de agressor de mulheres e de misoginia. Disse ter sido agredida por ele. As imagens evidenciavam que não.

A gente sabe que o PCdoB se gruda às coisas como craca. Tem poucos eleitores e poucos deputados, mas é uma gente aguerrida na arte do aparelhamento. Vejam o caso da UNE: desde a reconstrução da entidade, o partido está lá. Transformou aquele troço num cartório. Para os estudantes, é irrelevante. Mas se tornou uma boa fonte de recursos.

Rodrigo Maia também não ficaria infeliz em ver Luiz Felipe Salomão, ministro do STJ, nomeado para a vaga aberta no Supremo com a morte de Teori Zavascki. Dos nomes todos que circulam, é quem mais tem um alinhamento à esquerda, embora os apoiadores de sua candidatura insistam num certo perfil “neutro”, “técnico”.

Encerro Dados os três nomes, Maia é o melhor? É, sim. Isso significa que considere sua candidatura constitucional? Lamento! Não considero. Mesmo assim, pode fazer uma boa gestão? Pode. Há algo de adicional a dizer a respeito? Há! As pautas da esquerda podem interessar à candidatura de Maia, mas não interessam ao país.

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