Nada é mais público no Brasil do que um depoimento sigiloso, certo? Ninguém se interessa muito por aquilo que é do domínio de todos. Os vazadores existem justamente para burlar a determinação legal. Não seria diferente com o depoimento prestado nesta quarta por Marcelo Odebrecht ao ministro Herman Benjamin, relator dos processos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pedem a cassação da chapa que elegeu Dilma-Temer.
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Nesta quinta, serão ouvidos os ex-diretores do grupo Claudio Mello Filho e Alexandrino Alencar. Se os vazamentos correspondem mesmo ao que disse Marcelo, não há escapatória: Lula, Dilma e Guido Mantega estão ainda mais enrolados. No que diz respeito ao presidente Michel Temer, a coisa andou de lado. Vamos ver.
Comecemos por Temer. O herdeiro do grupo Odebrecht teria confirmado, sim, um jantar no Palácio do Jaburu. Segundo disse, foi mera formalidade, uma vez que a doação da empresa ao PMDB já teria sido previamente acertada — segundo disse, talvez com Eliseu Padilha. O empresário não endossou, assim, a acusação feita por Mello Filho em sua delação premiada (que vazou, claro!), segundo o qual Temer havia solicitado pessoalmente a doação, com o que Marcelo teria concordado. E pelo caixa dois.
Não! A chapa que elegeu Dilma como presidente e Temer como vice, segundo o depoimento, não faz uma bela figura. Mas, convenham, já se sabe disso no TSE faz tempo. Se o atual presidente responderá solidariamente por eventual punição à titular da chapa, assim já era antes. E a coisa é feia. Segundo o Estadão, o depoente afirmou que 80% dos recursos doados pela empresa à campanha petista de 2014 saíram do caixa dois. Dilma sabia de tudo, assegurou o empresário, inclusive dos pagamentos feitos ao marqueteiro João Santana.
E de quanto foi a doação? R$ 150 milhões — logo, R$ 120 milhões teriam irrigado a campanha por fora. Espantoso. Querem mais? Pelo menos R$ 50 milhões desse total eram uma espécie de “pagamento” que o grupo fez ao governo petista em razão de uma Medida Provisória enviada ao Congresso em 2009, que beneficiou a Braskem, que pertence ao conglomerado.
Marcelo reafirmou o que já dissera aos procuradores. Esteve com Dilma no México e a alertou para o fato de que os recursos repassados a Santana estavam “contaminados” — porque feito por intermédio de offshores que acabaram servindo ao pagamento de propina. Segundo o empreiteiro, quem cuidava desse assunto era Antonio Palocci.
Mantega
Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda, vai vendo crescer o seu papel em toda essa vilania. Segundo Marcelo, era ele quem tratava das doações, com delegação, entenda-se, de Dilma Rousseff. Aquele MP do Refis, por exemplo, que teria acarretado uma vantagem à Braskem de R$ 2 bilhões, foi obra de… Mantega.
Marcelo disse a Herman Benjamin que a Odebrecht não fez nada além do que faziam todas as empresas, sugerindo que esse era o modo como operava o modelo petista de gestão. Chegou a dizer: “Eu não era o dono do governo, eu era o otário do governo. Eu era o bobo da corte do governo”.
E agora?
Nesta quinta, Mello Filho e Alencar depõem. Vamos ver. Não se sabe se outros delatores da empresa farão o mesmo. Depois, será preciso ouvir o contraditório para que se conheça a versão dos acusados.
O que dizer, meus caros? Bem, você pode achar que assim eram as coisas porque assim sempre foram as coisas. Vale dizer: todos os políticos são corruptos, e todos os partidos assaltam igualmente os cofres públicos. Por esse caminho, chegamos à Terra dos Mortos. O PT está fazendo de tudo para que acreditemos nisso. E, infelizmente, setores da Lava Jato e da direta brasileira também.
Ou você pode reconhecer o que há de particular, de verdadeiramente único, na obra petista, que é também o assalto à institucionalidade. É mais do que roubar, o que já é muito grave: o trabalho consiste em transformar a fraude numa norma.
Um caminho nos livra do desastre. O outro devolve a esquerda ao poder.
O que será?
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