Marina Silva se diz “sonhática”, mas pode ser “pesadêlica”

  • Por Jovem Pan
  • 15/08/2014 09h28

Reinaldo, Marina Silva, possível candidata do PSB à Presidência, se diz sonhática. Porque você diz que ela pode ser pesadêlica? O que é isso?

Marina Silva é uma esfinge. Sem segredos. O que ela pensa? Dizer que ninguém sabe é bobagem. Dá, sim, para saber. Ela se desgarrou do PT, como é sabido, mas não se livrou dos piores vícios da nave-mãe. Querem um exemplo? Foi uma das mais entusiasmadas defensoras do Decreto 8.243, o tal que atrela a administração federal a conselhos populares e institui, na prática, uma Justiça paralela.

Recuemos um pouco. Como esquecer a atuação de Marina Silva durante a votação do Código Florestal? Se a sua proposta tivesse vingado, o país teria sido obrigado, atenção, a reduzir a área destinada à agricultura e à agropecuária. O que digo aqui não é especulação. É apenas um fato. É demonstrável. Em 2013, a balança industrial produziu um déficit de US$ 105 bilhões, e o setor agropecuário, um superávit de US$ 82,91 bilhões. Isso para um país que teve um superávit de apenas US$ 2,5 bilhões. E olhem que foi uma trapaça contábil. De verdade, o saldo foi negativo. Ou por outra: o agronegócio salva o Brasil da bancarrota, mas Marina Silva queria diminuir a área plantada.

É o tipo de militância que seduz os descolados e os ignorantes, mas de ampla repercussão no exterior, especialmente nos países ricos que acham que devemos deixar a agricultura com eles, enquanto a gente disputa o cipó com os macacos e foge das onças-pintadas.

Pegue-se agora a questão energética. O Brasil só não passa por um apagão de fazer 2001 parecer brincadeira de criança porque cresceu 2,7% em 2011; 0,9% em 2012; 2,1% em 2013 e deve ficar em torno de 0,8% neste ano. Estivesse crescendo, como precisa, a pelo menos 4%, já estaríamos no escuro.

Mesmo assim, ainda que tente aqui e ali dizer o contrário, Marina se opôs, sim, à construção da usina de Belo Monte. Há mais: Marina fala em nome de uma tal “nova política” que ninguém, até agora ao menos, entendeu direito o que é. É impossível governar o país sem o Congresso, a menos que se queira gerar uma crise institucional dos diabos. Em sua pregação, ela dá a entender que políticos são sempre os outros, nunca ela própria. Por quê? Porque acredita na tal da “mobilização em rede”, que vem a ser a prima rica ― e com nível universitário ― de movimentos como o MST ou MTST. Nem por isso menos autoritários.

Na verdade, nesse particular, ela vai até um pouco além. Por mais que queira negar, parte do mau espírito das ruas ― e não do bom ― de junho do ano passado a esta data contou com o seu apoio silencioso. Ela pode se tornar a única beneficiária do ódio à política que tomou as ruas. A propósito: alguém leu ou ouviu alguma censura de Marina aos black blocs?

O fato de a possível candidata do PSB ter hoje “conselheiros” com uma visão, digamos, mais à direita em economia do que o petismo não me seduz absolutamente. Na verdade, do meu ponto de vista, só torna a equação ainda mais confusa porque não vejo como ela poderia incentivar com a mão esquerda o espírito militante e procurar conter com a direita o rombo nos cofres públicos. Ou por outra: o discurso ideológico de Marina atenta contra o caixa, mas ela se cerca de gurus econômicos que fazem profissão de fé na responsabilidade fiscal.

Na minha coluna de hoje na Folha, critico as patrulhas petistas ― ou a seu serviço ― que tentam impedir que se formule um pensamento alternativo no Brasil. Busca-se deslegitimar desde a origem qualquer crítica organizada ao governo e ao partido oficial. Aécio Neves, do PSDB, é vítima desse procedimento. Eduardo Campos também era. Será que estou a fazer o mesmo com Marina? Estou é criticando aqui o que conheço de sua militância e dizendo por que ela não me serve.

Se ela se eleger presidente e puser em prática o que pensa sobre militância organizada, a relação com os Poderes instituídos, o agronegócio e o setor energético, quebra o país e o conduz a uma crise política sem precedentes. Uma Marina que conseguisse governar teria de jogar fora a Marina “sonhática”, que está muito mais para “pesadêlica”.

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