Mário Soares fez sua imensa parte na sólida democracia portuguesa

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan
  • 10/01/2017 05h56
Tem início o cortejo fúnebre do ex-presidente português Mário Soares EFE Imagens do Dia

Nesta terça-feira, o mundo se despede de Mário Soares, que morreu no sábado aos 92 anos. Eu tenho uma queda por políticos que conduzem transição de ditadura para democracia, especialmente quando a nova democracia não desemboca em uma nova ditadura.

E Mário Soares foi exemplar. Eu, adolescente, vibrava nos idos da década de 70 com o que acontecia na Península Ibérica, com o que a portuguesada e a espanholada faziam contra o salazarismo e o franquismo. Ainda não entendia muito bem as complexidades da luta, mas era fácil torcer contra os dinossauros no poder ibérico, enquanto o Brasil e vizinhos eram governados por gorilas.

Mário Soares claro que entendia das complexidades e conduziu sua vida política com coragem, consistência e pragmatismo. Infatigável, ele buscava as brechas. Navegar era preciso….e viver também. Mário Soares atuou quando necessário e possível dentro dos rígidos espaços conferidos pelo salazarismo.

E quando preciso, ele encarou prisão e exílio. Na juventude, foi comunista, pois era o espaço que existia atuar na oposição. Mas, logo percebeu que era um roubada, embora tenha tido uma longa e complicada relação de aliança e rivalidade com o dinossauro comunista Álvaro Cunhal.

E, assim, na extensa folha corrida de Mário Soares, um socialista, não esteve apenas a luta contra o fascismo português, mas contra a guinada comunista da Revolução dos Cravos em 1974. Com razão, tanta gente nos últimos dias tratou Mário Soares como um pai, não apenas da democracia moderna portuguesa, mas da própria modernidade portuguesa.

Nenhum surpresa que o socialista espanhol Felipe González, que exerceu um papel semelhante ao do amigo e companheiro de armas (políticas) no seu país, tenha dito que Mário Soares era “um democrata, convencido que apenas acabando com a ditadura salazarista e enfrentando em seguida a guinada autoritária comunista ele poderia desenvolver suas ideias: o socialismo democrático.”

No entanto, está aí também o atual primeiro-ministro espanhol, o conservador Mariano Rajoy, dizendo o seguinte a respeito de Mário Soares: “Um grande europeísta, uma figura chave na democracia portuguesa.”

Isto mesmo: Mário Soares foi um grande homem no seu tempo de luta pela democracia e de inserção de Portugal na modernidade democrática e econômica europeia. São dias frágeis na Europa, mas Portugal e Espanha são sólidas democracias. Mário Soares fez sua parte, imensa.

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