A morte dos velhos sonhos e a nova realidade de Obama

  • Por Caio Blinder
  • 10/09/2014 15h54
EFE Oabama discurso

Em seu segundo discurso de posse presidencial, em 21 de janeiro de 2013, Barack Obama pontificou: “Uma década de guerra está terminando”. A promessa de Obama era a retirada americana do Iraque e do Afeganistão. Na verdade, uma retirada dos atoleiros externos. Na sequência daquele discurso de segunda posse, o presidente listou seus planos e aspirações, centradas em um projeto de ativismo governamental. Na lista, estavam o combate à desigualdade de renda, reformas tributária, educacional e na imigração;  e ênfase em mudanças climáticas.

A agenda doméstica está à deriva, Obama está sendo sugado pelos atoleiros do Oriente Médio e de outras crises internacionais. Nada mais irônico que o presidente tenha escolhido esta quarta-feira, véspera do décimo-terceiro aniversário dos atentados do 11 de setembro para tentar vender ao país e ao mundo, em noturno pronunciamento solene, seus planos para lidar com o terror do grupo Estado Islâmico. Afinal foram aqueles atentados em 2001 que impeliram os EUA para as guerras que o presidente decidiu remover da agenda americana. No seu segundo mandato, Obama queria cuidar das questões dom ésticas.

Obama é apenas mais um presidente forçado a constatar que não pode se dar ao luxo de escolher o tipo de presidência que gostaria de conduzir. O presidente tem poderes, mas não o controle das marés da história. Acaba respondendo às ondas e Obama foi especialmente acusado de comportamento passivo ou vacilante ou excessivamente cauteloso quando a maré surgiu, em especial no Oriente Médio.

Imagine! Há duas semanas, o presidente disse que “ainda não tinha uma estratégia” para cuidar do Estado Islâmico”. Ela acaba de ser arranjada quando pesquisas de opinião pública mostram os americanos com um pouco mais de apetite, em comparação há meses atrás, para ativismo dos EUA no exterior, especialmente na questão do terror islâmico. No entanto, persiste a aversão ao envio de tropas ao Oriente Médio.

No primeiro mandato, Obama foi consumido por crises que ele não gerara, como o colapso financeiro de 2008 e as invasões do Afeganistão e Iraque. Precisava lidar com estes desafios e sua marca registrada doméstica foi a reforma de saúde. Ironicamente, seu governo foi consumido por esta controvertida reforma, que ficou conhecida como Obamacare, cujo resultado foi a perda da maioria democrata na Câmara dos Deputados nas eleições de 2010.

Franklin Roosevelt estava destinado a ser associado basicamente ao novo contrato social e econômico, o New Deal, mas com o monstro fascista ele se tornou no presidente da guerra. Lyndon Johnson estava a caminho para ser o presidente das grandes reformas sociais, Great Society, mas foi devorado pela guerra do Vietnã. O provinciano George W. Bush assumiu com a ambição de ser o campeão de um conservadorismo da compaixão e sua presidência foi forjada pelos atentados do 11 de setembro e por guerras.

No discurso desta quarta-feira, o presidente Barack Obama estará em linhas gerais reconhecendo a morte do seu sonho e muito de sua agenda. O pronunciamento vai sublinhar aos americanos e ao mundo como as prioridades da ainda única superpotência do planeta estão mudando. O foco do discurso não será a expansão da agenda doméstica, mas da expansão do combate ao terror islâmico no recém-inventado Siraque (Síria + Iraque).

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