Motorista é sócio de empresa que geriu campanha do PT

  • Por Jovem Pan
  • 10/12/2014 14h24

Reinaldo, quem é, afinal, o dono da empresa que responde pelo segundo maior gasto do PT na campanha?

Vai saber, que pitoresco. Vocês se lembram daquela empresa, a Focal Comunicação, à qual o PT teria pagado R$ 24 milhões por serviços prestados na campanha presidencial de 2014? Pois é. Um dos sócios é um motorista – isso mesmo – que tinha, até o ano passado, um salário de R$ 2 mil. Chama-se Elias Silva de Mattos. Carla Cortegoso seria sua sócia na empreitada. Localizado pela reportagem, Mattos afirmou não ter nada a ver com a empresa. E quem falou em nome da Focal? Carlos Cortegoso, pai de Carla.

Nesta terça, Carlos mudou a versão apresentada no dia anterior e disse à reportagem da Folha que é ele o verdadeiro dono da empresa, aberta em 2003 – primeiro ano da gestão petista, diga-se. Segundo afirmou, como estava inadimplente, resolveu abrir a empresa em nome da filha. Com a saída de um sócio, homem generoso que é, pôs o motorista no negócio.

Cortegoso, cuja empresa apareceu como destinatária de dinheiro distribuído por Marcos Valério, o operador do mensalão, explica a “chance” dada a Mattos: “As pessoas brincam que eu tenho uma queda por motoristas. Eu digo que tenho mais queda por garçom porque eu fui garçom. Eu pretendo deixar minha empresa para todos os funcionários”. Ele disse ainda ser de sua natureza dar chance para a ascensão de seus empregados. Que alma boa.

Então ficamos assim: a segunda empresa que mais recebeu do comitê eleitoral petista – só perdeu para a de João Santana (R$ 70 milhões) – pertence a um destinatário de dinheiro do mensalão, que foi, segundo disse, multado em R$ 1,5 milhão naquele processo. Como o seu dono tem uma natureza peculiar, dá uma chance a um motorista esforçado e o faz sócio da empresa – que, atenção, estava em nome da filha.

A Focal tem site na internet e tudo. Há ali alguns clientes privados, como vocês podem ver em clientes. Mas, entre todos os logos, dois se destacam: o dos Correios e a da Petrobras. Bacana.

A CPI do mensalão, não custa lembrar, chamava-se, na verdade, CPI dos Correios – já que foi nessa estatal que apareceu a primeira ponta daquele esquema de roubalheira. A empresa certamente não vê uma concorrente mais imaculada para lhe prestar serviços – sei lá quais. Quanto à Petrobras, dizer o quê?

Encerro lembrando que Cortegoso poderia ter dado essa resposta à reportagem da Folha anteontem, quando foi procurado a primeira vez. Preferiu vir com a conversa mole de que os pobres têm direito à ascensão social. Ocorre que as notas fiscais fornecidas pela Focal estão entre aquelas que os técnicos do Tribunal Superior Eleitoral consideram irregulares na prestação de contas da campanha de Dilma.

O relator das contas no TSE, Gilmar Mendes, pode apresentar nesta quarta a sua decisão: ou acata o parecer dois técnicos, que recomendaram a rejeição, ou as aprova. Vamos ver. Se a empresa que responde pelo segundo maior gasto é assim, como serão aquelas que respondem pelos demais?

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