Nem insultos de Trump nem a ignorância de Carson assustam o eleitor republicano

  • Por Caio Blinder/ JP Nova Iorque
  • 26/10/2015 12h20
Montagem/ EFE e Wikimedia Commons Donald Trump e Ben Carson lideram as prévias republicanas

Para um trabalho de faculdade em São Paulo, um grupo de estudantes me pediu que eu explicasse o fenômeno Donald Trump nas primárias presidenciais republicanas. Tarefa inglória para o mais sofisticado e didático dos analistas. Trump desafia as leis da gravidade política com seus insultos e disparates. Ele é reflexo de desencanto generalizado com a classe política, especialmente a elite republicana. Trump reflete um medo xenofóbico do americano branco do “outro”, algo parecido com Marine Le Pen na França e outros líderes de partidos da direita radical europeia.

Não visualizo Trump como candidato republicano contra a democrata Hillary Clinton em novembro de 2016, mas ficará a fúria que ele reflete. O apelo de Trump também está relacionado com o excesso de personalismo e de clima de reality-show na corrida eleitoral. Eu, porém, estou cada vez mais de olho em Ben Carson, mais afável e com comentários mais bizarros do que os de Trump. Nas pesquisas, Carson encosta ou mesmo ultrapassa o bilionário bufão. A ignorância de Carson impressiona, em especial ao fazer analogias históricas imbecis. Ele compara qualquer coisa com o nazismo. Afinal, ele é um lendário neurocirurgião. Cabeça dele é brilhante para algumas coisas e terrível para outras, como operações políticas.

Nada disso assusta o eleitor republicano. Pelo contrário. É a hora e a vez do candidato inexperiente. Está aí a pesquisa da agência AP, revelada no domingo. O eleitor republicano considera Trump como o seu mais forte candidato em novembro de 2016. Sete em dez republicanos ou eleitores inclinados aos republicanos dizem que Trump pode ganhar no ano que vem se for o candidato do partido. Ben Carson não fica muito atrás, seis em dez. Esta avaliação do eleitor comum contrasta com a dos marqueteiros. Os profissionais alertam que Trump e Carson seriam um desastre eleitoral contra Hillary Clinton, que parece ter o caminho aberto para sua indicação como candidata democrata em 2016.

O bom senso está do lado dos marqueteiros. O eleitor republicano nas primárias é mais branco e mais velho. E absorveu a retórica intolerante de Trump, que já acusou imigrantes ilegais mexicanos de estupradores e criminosos, além de fazer comentários machistas sobre mulheres, enquanto Carson, que é negro, diz ser inconcebível um presidente muçulmano nos Estados Unidos.

Nas eleições gerais, o votante é mais diversificado. Os democratas, é claro, torcem para que o candidato republicano seja Trump ou Carson.

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