Nova direita? 2016 apontará alcance do populismo no capitalismo ocidental

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan Nova Iorque
  • 02/07/2016 13h35
Montagem/EFE e Divulgação Donald Trump e Ronald Reagan - Montagem EFE e DIV

O americano Donald Trump e britânico Boris Johnson são dois bufões à frente da fúria populista em 2016. O ex-presidente americano Ronald Reagan e a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher foram gigantes políticos e ideológicos do movimento conservador nos anos 80.

Trump é o candidato republicano à presidência dos EUA e Boris Johnson acabou saindo da disputa afiada entre os conservadores pelo emprego de David Cameron, que anunciou sua renúncia como primeiro-ministro após sua derrota vexaminosa no referendo Brexit, que decidiu pela retirada do país da União Europeia.

Estamos vivendo os desdobramentos da grande crise global de 2008 e um dos resultados é o fim da economia do laissez-faire, ou seja do primado da economia de livre mercado. Do lado americano do Atlântico, é especialmente virulenta a cantilena de protecionismo comercial de Trump, o bilionário à frente de massas ressentidas que perderam o bonde da história.

Reagan e Thatcher investiram contra os excessos do Welfare State, o estado do bem-estar social, prenunciando a crise de esgotamento que ele amarga atualmente, especialmente na Europa. Ambos comungavam a fé nos mercados globais sem amarras.

Com menos ardor, mas com convicção pragmática, sucessores de centro-esquerda, Bill Clinton e Tony Blair, respectivamente nos EUA e Grã-Bretanha, aceitaram as doutrinas de Reagan e Thatcher. O comparsa no Brasil, nas devidas proporções, foi Fernando Henrique Cardoso.

Existe uma tradição globalizante na Grã-Bretanha (DNA imperial), mas o voto Brexit foi além de aversão pela União Europeia (algo compartilhado por Thatcher). Foi um repúdio à globalização, uma causa que era defendida de forma entusiástica pela ex-primeira-ministra.

Sem ilusões. O destino reserva à Grã-Bretanha, fora da União Europeia, o status de Little England. O voto contra a UE foi um voto provinciano.

Eduardo Porter escreve no New York Times que o voto Brexit foi impulsionado por trabalhadores brancos com educação modesta que se sentem atropelados pela história, por forças fora do seu controle. Estão azedados pelo fruto do trabalho barato na China ou pelas ondas de imigrantes com fés e tons de pele diferentes.

A frustração anima partidos protofascistas na Europa e azeita a campanha de Donald Trump nos EUA. Ele veste o manto conservador, mas fica cada vez mais claro que rótulos ideológicos não se ajustam a este novo campeão das massas. É um insulto a Reagan quando Trump se assume como o seu sucessor.

O capitalismo ocidental teve duas crises transformativas desde o final do século 19: a Grande Depressão nos anos 30, que resultou em intervencionismo do Estado e salvou o capitalismo. Seus excessos resultaram na revolução conservadora de Reagan e Thatcher nos anos 80.

Até o final do ano, teremos uma medida mais precisa do alcance da revolução populista nos dois lados do Atlântico.

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