Números provam que financiamento privado de campanha é mais democrático

  • Por Jovem Pan
  • 07/08/2014 11h09
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Reinaldo, então os números provam que o financiamento privado de campanha é mais democrático que o público?

Provam sim. A Folha traz hoje uma reportagem demonstrando, embora não seja esse o intuito, que o financiamento privado de campanha é mesmo o caminho da democracia brasileira, como sabe, diga-se, a maioria dos países democráticos do mundo. Segundo o jornal, “três empresas ― JBS, a dona da marca Friboi; Ambev, a das bebidas, e OAS, a construtora ― são responsáveis por 65% do financiamento das campanhas eleitorais pela Presidência da República até aqui”. Esses dados correspondem à prestação de contas das campanhas, com as informações disponíveis até o dia 6.

As virgens pálidas logo vão reagir: “Oh, meu Deus! A democracia brasileira nas mãos de três empresas” Calma, meninas. Em primeiro lugar, é muito cedo. Em segundo, ainda que assim fosse, é melhor a democracia nas mãos de três entes do que nas de um só: as do Estado. A prevalecer a maioria firmada, por enquanto, no STF, na próxima disputa, as empresas privadas não doarão mais nada. E tudo terá, então, de sair dos cofres do estado. Aí será preciso buscar um critério, não é? Muito provavelmente, os cofres públicos arcarão com o pesado custo da eleição. E isso será feito segundo qual critério? Esse dinheiro será distribuído ou segundo o número de deputados na eleição anterior ou segundo o número de votos obtidos pelas legendas. Em qualquer dos dois casos, o passado vai ditar a forma do futuro. E isso é uma porcaria antidemocrática.

A Folha informa que a JBS lidera as doações. Foi a empresa que mais doou para a presidente Dilma Rousseff (R$ 5 milhões), a que mais doou para o senador tucano Aécio Neves (também R$ 5 milhões) e ainda a segunda da lista do candidato do PSB, Eduardo Campos (R$ 1 milhão). Sozinha, compõe 35% das doações. Que bom, né? Vejam a graça da democracia e das doações privadas: mesmo o PSDB não sendo governo e não podendo, pois, prestar favores à JBS, recebe doações em pé de igualdade, até agora, com o PT. No sistema do financiamento público, é evidente que o partido de Dilma faria de uma maioria contingente e temporária ― o passado ― um ativo que se projetaria no futuro.

Há mais: a Folha só pode publicar esses dados porque se trata de doações públicas. Entenderam a questão? No dia em que prevalecer a proibição das doações privadas, essa conta será igual a zero. Oficialmente ao menos, as empresas ― essas ou quaisquer outras ― não doarão mais nada. Ocorre que não adianta tentar represar o mar (com a provável exceção da Holanda, claro.). As doações continuarão a ser feitas, mas nós não ficaremos sabendo. Ainda que a doadora para o processo eleitoral fosse uma única empresa ― o que jamais aconteceria no sistema atual ―, o modelo seria mais transparente do que aquele que virá pela frente.

A reportagem da Folha informa ainda que, até agora, Aécio Neves, do PSDB, lidera a corrida pelo dinheiro, com R$ 11 milhões arrecadados. Dilma Rousseff, do PT, vem em segundo, com R$ 10,1 milhões, e Eduardo Campos, do PSB, com R$ 8,2 milhões. Juntos, os três representam 94% do total. Mais uma evidência da superioridade do modelo da doação privada, não é mesmo? Os doadores, como se vê, apostam na democracia quando não põem o dinheiro apenas no cavalo considerado favorito.

Tenho 52 anos. Não nasci ontem. Não acho que a única grana das eleições seja aquela declarada. Mas, ainda assim, o modelo que temos é melhor do que o vem por aí, com a proibição das doações de empresas. Se, hoje, a bufunfa não declarada nas campanhas corresponde a “x”, com a proibição, corresponderá a “10x”. É só uma questão de lógica elementar.

Mas eu sei que a lógica elementar não é a disciplina preferida das virgens pálidas ― ou das virgens vermelhas.

 

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