O Brasil, o muro e um ato símil à declaração de guerra

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 27/01/2017 10h47
MR01. WASHINGTON (EE.UU.), 26/01/2017.- El presidente de EE.UU. Donald J. Trump saluda a su llegada hoy, jueves 26 de enero de 2017, luego de descender del Marine One en el patio sur de la Casa Blanca en Washington (EE.UU.). Trump regreso de Filadelfia donde asistió a un retiro con líderes de la Cámara y el Senado de EE.UU. EFE/MICHAEL REYNOLDS EFE/MICHAEL REYNOLDS efe - Presidente dos EUA Donald J. Trump

As pessoas mandam as maiores porcarias para nossos endereços eletrônicos, não é mesmo? O sujeito descobre o telefone de um vivente e dispara uma boçalidade qualquer por WhatsApp. Ou ela chega por e-mail. Nas redes sociais, então, o capeta dá as cartas.

Um desavisado me envia um troço de um cretinismo ímpar. Atacava José Serra, ministro das Relações Exteriores, porque o Itamaraty emitiu uma nota — bastante comedida, diga-se — expressando preocupação com a decisão de Donald Trump, presidente dos EUA, de construir um muro na fronteira com o México.

Ouça o comentário completo AQUI.

Reproduzo o texto do Itamaraty: “A grande maioria dos países da América Latina mantêm estreitos laços de amizade com o povo dos Estados Unidos. Por isso, o governo brasileiro recebeu com preocupação a ideia da construção de um muro para separar nações irmãs do nosso continente sem que haja consenso entre ambas. O Brasil sempre se conduziu com base na firme crença de que as questões entre povos amigos — como é o caso de Estados Unidos e México — devem ser solucionadas pelo diálogo e pela construção de espaços de entendimento”.

O que há de errado com a nota? Segundo o bobalhão que mandou a mensagem, Serra foi militante de esquerda, é esquerdista ainda e teria levado o Brasil a reagir por razões ideológicas.

É de uma boçalidade ímpar.

Vamos pôr os pingos nos is. Um governo que decide construir unilateralmente um muro — e anunciando que o outro lado vai pagar — comete um ato de extrema hostilidade. É um ato vizinho da declaração de guerra. Até porque, não custa notar, qual é o elemento aparentemente ausente, mas muito presente, na decisão unilateral? Respondo: os EUA têm a força militar, não? E se o México não aceitar a construção? Essa hipótese nem se coloca. Se a ideia prosperar, terá de aceitar.

É evidente que a decisão não hostiliza apenas o país vizinho. Estamos diante de uma expressão de hostilidade ao “outro”, a qualquer “outro”. Na verdade, é o Maluco Alaranjado contra o mundo.

Departamento de Estado A reação mais forte, é bom notar, partiu de dentro da “América”. Patrick Kennedy, subsecretário de Estado para Assuntos Administrativos, e três de seus principais assessores renunciaram. São diplomatas de carreira. Já trabalharam para republicanos e democratas. Não querem saber de Trump.

E não parece que o futuro seja especialmente sorridente para a “Grande América”. Os áulicos são trogloditas como o líder. Stephen Bannon, o estrategista-chefe de Trump, concedeu uma entrevista ao New York Times e afirmou que “a mídia deveria estar envergonhada e humilhada e deveria ficar de boca fechada e só ouvir por um tempo”.

São uns irresponsáveis. Acham que governar os EUA se resume a promover uma guerra nas redes sociais para ver quem fala mais grosso. Trump nunca foi flor que se cheirasse, não é? A campanha eleitoral o tornou ainda mais tosco. Carregou nas tintas da estupidez e percebeu que isso atraía público e votos.

Agora, ele é presidente de todos os americanos. E tem a responsabilidade que têm os EUA na segurança global. Em vez de buscar falar para todos, ele continua empenhado em excitar a sua grei de brucutus.

O que me conforta de antemão?

Ele não vai chegar ao fim do mandato, aposto.

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