O começo do fim na Venezuela

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan
  • 04/05/2017 06h12
-FOTODELDIA-CAR01. CARACAS (VENEZUELA), 24/04/2017 - Un hombre participa en una manifestación contra el Gobierno venezolano hoy, lunes 24 de abril de 2017, en Caracas (Venezuela). Centenares de venezolanos en varias ciudades del país comenzaron a concentrarse para la protesta convocada por la oposición denominada "Venezuela se planta contra la dictadura", con la que han llamado a manifestarse en contra del Gobierno de Nicolás Maduro. EFE/CRISTIAN HERNANDEZ EFE/CRISTIAN HERNANDEZ Homem participa de manifestação contra governo venezuelano em Caracas

Sabemos que a Venezuela caminha para o abismo ou para as labaredas (neste último caso, nem se trata de metáfora). Em um mundo atormentado e sobressaltado por desafios como os da Síria e da Coreia do Norte, as repercussões do colapso de um país na América do Sul que chegou a ter uma das maiores rendas per capita no mundo no século 20 é um acontecimento secundário, em particular no radar dos Estados Unidos e dos norte-americanos.

Assim, é um amargo consolo quando o New York Times publica com destaque o depoimento do jornalista e escritor Hugo Prieto. Ele escreve de Caracas para relatar a coragem e o desespero do povo nas ruas para protestar contra o descalabro chavista.

Prieto faz a constatação ao detalhar seu encontro com uma mulher sessentona buscando abrigo da repressão durante uma manifestação na rua em que ele mora. A senhora se sente envergonhada por buscar a proteção. Quer seguir adiante com seu protesto. Existe esta convicção nas ruas sobre a falência chavista, mas também a dinâmica sombria de uma repressão mais suja, mais escabrosa.

Prieto destaca um divisor de águas: a denúncia no mês passado da própria ministra da Justiça, Luisa Ortega Díaz, contra o plano da aparelhada Corte Suprema de se apossar dos poderes da Assembleia Nacional (houve o recuo).  Nas ruas, o povo lembra que a própria ministra da Justiça aponta o regime de Nicolás Maduro como golpista.

Os protestos estão cada vez mais sangrentos e as detenções arbitrárias se intensificam. Hugo Prieto escreve que em questão de semanas, o regime chavista fez a trajetória de autoritarismo para ditadura. E no seu alerta, “está apenas a um passo da tirania”. No entanto, o povo resiste e perdeu o medo, pois “liberdade e democracia se tornaram uma luta existencial, uma questão de vida ou morte’.

Mais de 80% dos venezuelanos rejeitam Nicolás Maduro, mas a classe dominante está em estado de negação, fruto de sua própria incompetência. Aqui eu faço um reparo ao relato de Hugo Prieto. Creio que não se trata apenas de negação, mas de reafirmação de uma classe reinante de se aferrar ao poder até onde for possível.

O maior temor do chavismo sempre foi a revolta de sua própria base eleitoral e em abril, moradores de Petare, a favela mais densamente povoada na América Latina, com. 1,2 milhão de habitantes, aderiram aos protestos. Para Hugo Prieto, esta dinâmica representa o começo do fim do governo Maduro.

E como escapar do labirinto? Há apenas uma fresta para o diálogo. Se os canais de comunicação se fecharem de vez, a alternativa poderia ser uma intervenção militar que instale um governo de unidade nacional encarregado de organizar eleições livres, ou seja, o referendo rechaçado por Maduro, pois significaria o seu fim.

Prieto reconhece ser perigoso convocar os militares a decidir a parada, mas a alternativa é uma ditadura comunista ao estilo cubano. No entanto, existem outras possibilidades: uma guerra civil ou uma intervenção militar contra Maduro, mas que ainda preserve o chavismo.

Não existem boas opções na Venezuela graças ao descalabro chavista. A saída do labirinto será dolorosa.

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