O Eduardo, o Cunha, o Dr. Jekyll e o Mr. Hyde: não adianta! Ele não controla o que é uma natureza
O deputado federal afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) tem o direito de entrar com a petição que quiser no Supremo Tribunal Federal e de tentar embolar o meio de campo com meias-verdades que são, por definição, mentiras inteiras. E a gente tem o dever de deixar claro que as coisas não são como ele diz. Vamos ver.
Seus advogados pediram ao tribunal autorização para ele voltar à Câmara. O argumento central é que ele foi afastado porque, na condição de presidente, tinha como interferir no processo. Como, agora, ele presidente já não é, uma vez que renunciou, então restaria vencida a causa principal do afastamento.
Eis a meia-verdade que é mentira inteira. Fosse como argumenta a defesa, Cunha teria sido afastado apenas da Presidência. Mas o tribunal tomou a decisão, de fato inédita, de afastá-lo também do exercício do mandato.
Logo, é evidente que, segundo o STF, não era apenas o exercício da Presidência que servia para a ação de obstaculizar o processo, mas também o do próprio mandato. Ou por outra: na decisão dos ministros está mais do que explícita a tese oposta àquela ora esposada pela defesa.
Não custa lembrar: Rodrigo Janot, procurador-geral da República, apontou 11 situações em que a interferência de Cunha teria ficado clara — duas delas anteriores à sua ascensão à Presidência. Teori Zavascki, relator do caso, tomou a decisão e teve o apoio unânime do tribunal.
A defesa de Cunha argumenta que outros políticos com mandato, também investigados, seguem no exercício de suas funções. É fato. Mas eis aí uma circunstância em que cabe dizer: cada caso é um caso. Inexiste uma categoria jurídica que indique: “Políticos apenas investigados não podem ser afastados”. O afastamento existe ou não a depender da ação de cada um.
A nova iniciativa de Cunha expõe, mais uma vez, a sua impressionante determinação de tentar sobreviver politicamente. É bem provável que outros, diante de tantas adversidades, já tivessem sucumbido. Mas também não é menos verdade que poucas pessoas conseguiram, com igual determinação, manter uma vida secreta…
Vamos convir: se Robert Stevenson tivesse tido a chance de conhecer Eduardo Cunha, certamente enriqueceria ainda mais os contrastes entre o fabuloso Dr. Jekyll e o detestável Mr. Hyde.
Digamos, para efeitos de raciocínio, que todos carreguem em si um pouco do médico excepcional e um tanto do monstro repulsivo. É possível que, em Cunha, as qualidades e os defeitos tenham existido em quantidades que o tornam pouco recomendável para o exercício da política.
Cartas
Consta, aliás, que o deputado, à diferença de Dilma, não pretende escrever uma carta apenas, mas quase 300. Seriam epístolas personalizadas para os deputados. Assim, creio, ele vai fazer algo mais do que defender o próprio mandato. É provável que haja nos textos lembranças que podem pôr em risco o mandato dos outros.
Dr. Jekyll deveria conter Mr. Hyde, sair de fininho e procurar se livrar da cadeia. Mas quê… Ele vai até o fim.
É da natureza de Dr. Jekyll não conseguir controlar Mr. Hyde.
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