O escárnio dentro e fora das grades
Há uma reportagem na Folha de S. Paulo bastante curiosa, para não dizer trágica, sobre a amizade criada na cadeia entre Marcelo Odebrecht e Antonio Palocci.
Na carceragem, Palocci faz piada com o fato de ser chamado de italiano nas planilhas da empreiteira até há pouco controlada por Marcelo. Eles se encontram no banho de sol e riem. Marcelo Odebrecht dá dicas de defesa, sugerindo envolver a Polícia Federal em eventual acordo de delação. Marcelo ainda avisa aos advogados do petista que as perguntas em depoimentos são contrários aos interesses do ex-ministro da Fazenda.
Uma amizade que começou na campanha, rendeu muitos frutos a ambos, ao PT e à empreiteira, e continua mesmo atrás das grades.
Isso deveria ser proibido. Duas pessoas que negociam delação não deveriam ter contato. Pode gerar, no mínimo, alguma contestação e que alguém suscite a nulidade das delações.
Isso sem falar do escárnio.
Os dois, mesmo presos, não percebem o mal que fizeram ao Brasil junto a seus chefes.
Do lado de fora, o escárnio se repete.
À Rádio Guaíba, em uma das várias entrevistas longas e mentirosas, em seu road show dantesco pelo Brasil, Lula disse: “Tenho certeza absoluta que o Palocci não vai fazer delação. Se fizer delação (a certeza absoluta cai na frase seguinte) e contar tudo que ele sabe, pode prejudicar muita gente, menos eu”.
Ele acha que o seu ex-ministro da Fazenda tem muitas ilicitudes e crimes para contar, cometidos em seu governo, mas que não podem prejudica-lo. Porque ele não tem compromisso com a verdade e vai continuar negando tudo.
Somos feitos de idiota, atrás dos microfones ou das grades, por pessoas que ainda não perceberam que acabou o tempo em que elas reinavam absolutas na obscuridade.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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