O Estado Profundo na paranoia de aliados de Trump
A expressão é soturna e está enraizada em romances de espionagem e em tramas como o seriado Homeland. É o Deep State, o estado profundo. Trata-se da rede de órgãos militares e de segurança (ou oficiais e funcionários) que agem nas sombras para influenciar ou subverter um governo. No mundo real, o Deep State está associado a países como Egito, Turquia e Paquistão. O aparato de segurança é tão poderoso que mina governos democráticos ou meramente fracos.
Será possível este tipo de cenário em uma país como os EUA? Na era de Donald Trump, tudo é possível, pelo menos na imaginação, na paranoia e na teia de teorias conspiratórias. No seu novo rompante, Trump alega que o ex-presidente Obama grampeou a Trump Tower durante a campanha eleitoral. O comando da comunidade de inteligência nega, o que na lógica trumpiana é prova dos tentáculos do estado profundo.
Trump quer investigações no Congresso a respeito e mesmo os republicanos tratam o presidente como uma criança birrenta ou um tio excêntrico que precisa ser acalmado. Mas esta noção do estado profundo empenhado em tirar a legitimidade de Trump é levada a sério por gente como Steve Bannon, o estrategista-chefe de Trump, uma espécie de Marco Aurélio Garcia do presidente ignoramus.
Trump e Bannon evitam o uso do termo Estado Profundo em público, mas o mesmo pudor não existe no site Breitbart, que era comandando pelo estrategista da Casa Branca. Também o uso é pródigo na virulenta rede de sites e de apresentadores de talk radio que cerram fileiras com a nova ordem.
Na narrativa estridente deste pessoal, existe uma espécie de organização secreta nos porões da burocracia planejando a queda de Trump. O apresentador de talk-radio Mark Levin apela ao termo “golpe silencioso”. A diatribe de Levin deflagrou a tempestade de tuítes no sábado, com as acusações sem evidências disparadas por Trump contra Obama.
Governar é difícil e qualquer aprendiz de presidente sofre quando assume as rédeas em Washington ou em qualquer outra capital. Trump é esta mistura de criança birrenta, charlatão narcisista e dotado de um pendor autoritário. Está exasperado, pois a realidade não se encaixa no seu reality-show.
Ian Bremmer, meu guru da consultoria Eurasia, à la Trump, definiu em um tuíte: “Não existe um estado profundo em Washington. Existe uma profunda burocracia, com lealdade ao país antes do presidente. Uma grande limitação a Trump”.
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