O mundo está alarmado com a possível política externa de Trump
No boletim de terça-feira, eu falei do impacto interno de Donald Trump, na avaliação de Ian Bremmer, da consultoria de risco Eurasia. Na expressão dele, serão dias “excepcionalmente voláteis” e quem sabe até haja uma história econômica positiva no novo governo. Outra história, porém, na frente externa.
Bremmer observa que os Estados Unidos já perderam influência de forma significativa nos últimos 15 anos e a perda deverá aumentar com Trump e sua proposta de “America first”, ou seja de afastamento do cenário mundial e de seu desprezo pelas normas internacionais.
Em termos domésticos, Trump é de uma flagrante incoerência. Suas propostas são um ensopado de ideias, mas existe mais consistência na receita externa. Bremmer acredita que Trump irá adiante com seu unilateralismo e antiglobalismo, sempre colocando o interesse nacional na frente de tudo, pouco se importando com alianças e defesa de valores.
Na sua visão de mundo, Trump acredita que todos tiram vantagem dos EUA: América Latina fatura com a generosidade americana para acolher imigrantes; na Europa, o negócio é pegar carona nas garantias americanas de segurança, dando pouco em troca; os chineses roubam empregos americanos e países do Oriente Médio deixam terroristas (na verdade, refugiados) irem para os EUA.
Bremmer prevê que Trump irá “antagonizar” a América Latina e aliados no Oriente Médio, fazendo com que cooperem menos com os EUA. Sua aproximação com a Rússia irá antagonizar a Alemanha e a Grã-Bretanha (embora Trump esteja flertando com este país em processo de divórcio da União Europeia).
Países da Europa Oriental estão simplesmente alarmados com o descaso de Trump em relação à Otan, a aliança militar ocidental. E obviamente também a Ucrânia, vítima da agressão de Vladimir Putin, algo que não deixa Trump indignado. Na Ásia, tradicionais aliados dos EUA vão refazer as contas e calcular que talvez compense aceitar a hegemonia chinesa, especialmente com o repúdio de Trump ao tratado de livre-comércio transpacífico.
Putin, sem dúvida, é um grande vencedor na era Trump, assim como seu afilhado Bashar Assad. Ao final de um longo relatório, Bremmer ressalta o potencial Trump para minar as relações dos EUA com os aliados europeus, unidos por interesses estratégicos, mas também na defesa de nobres valores.
Bremmer considera valioso citar o que a primeira-ministra alemã Angela Merkel disse depois da eleição de Trump: “Alemanha e EUA estão conectados por valores de democracia, liberdade, respeito pela lei e dignidade do homem, independente de origem, cor da pele, religião, orientação sexual e visões políticas. Eu ofereço ao próximo presidente dos EUA uma estreita cooperação com base nestes valores”.
As rachaduras não poderiam ser mais evidentes.
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