O novo normal Trump e os “fatos alternativos”
Existem as formalidades do cargo. Presidente tem eventos, eventos, eventos. Faz reuniões, reuniões, reuniões. E solta declarações, declarações, declarações. No entanto, o presidente agora é Donald Trump. Começo de cargo é uma rota tortuosa para qualquer um. O caos faz parte do jogo. Com Trump, contudo, tudo é exagerado, grandioso, trumpesco.
Depois da posse na sexta-feira, Trump e alguns assessores foram realmente varzeanos, batendo boca com a imprensa sobre o número de torcedores, perdão, cidadãos, que prestigiaram a cerimônia. O novo líder do mundo livre continua tomando liberdade com os fatos. E sua assessora política, Kellyanne Conway, cunhou a preciosidade de que existem fatos e existem fatos alternativos.
Nenhuma surpresa, porém, que Trump não aja de forma presidencial. Caso se comportasse desta forma, ele iria decepcionar a imprensa ávida por factóides, alternativos ou não, e a massa de seguidores de um presidente, que está mais à vontade no papel de animador de auditório ou de líder de um difuso movimento populista.
Para Trump, não existe um muro entre a picuinha e o engajamento com situações que vão afetar o destino da humanidade. E nós precisamos nos acostumar, será o novo normal enquanto durar a sua presidência. Sempre haverá distrações e o jogo de empurra-empurra dos assessores. Uma hora, Trump estará descontrolado, tuitando sobre algum obscuro fato alternativo, na outra entretido em uma grave crise. No final das contas, incapaz de calibrar sobre a importância de cada coisa.
Trump tem pavio curto e tudo se agrava pois, além de ser genuinamente o novo senhor do Universo (ossos do ofício de presidente da única superpotência), ele se acha o centro do Universo.
Existe a versão trumpesca de que muito do que ele está fazendo nestes primeiros dias de governo é reagir com sua virulência habitual aos esforços para detonar sua legitimidade. E existe um fundo de verdade no queixume. Aqui, porém, é preciso alertar sobre o esforço de Trump para justamente remover a legitimidade dos fatos e literalmente vender a ideia de uma realidade alternativa. Essencial nesta tarefa é demonizar a imprensa sem tréguas, que meramente está fazendo seu trabalho para reportar inconveniências.
O plano é transformar a imprensa em sinônimo de notícias falsas. Fácil assim vislumbrar o que Trump e companhia farão assim que saírem números decepcionantes sobre empregos gerados no mês x ou sobre a taxa de aprovação do presidente no mês y.
Trump, metido a comediante, vai se comportar como um mestre no assunto, Groucho Marx, e de certa forma perguntar para a plateia, perdão, para a cidadania: vocês vão acreditar no que estão vendo ou no que eu estou falando?
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