O pirata Trump está promovido a capitão republicano

  • Por Caio Blinder
  • 22/07/2016 10h09
Montagens sobre fotos/ EFE Hillary Clinton e Donald Trump

 E o aprendiz foi promovido. Quinta-feira à noite, Donald Trump “humildemente” aceitou a indicação para ser candidato a presidente dos EUA pelo Partido Republicano na convenção em Cleveland.

Para os padrões de Trump, foi um discurso cordato, no esforço supremo para ter uma postura presidenciável. E Trump não resiste à sua própria voz.  Discurso longuíssimo de 75 minutos.

O bilionário de Nova York se apresentou como o campeão populista da nação, a “voz dos esquecidos”, garantindo que fará a América grande novamente.

Mas Trump sendo Trump, foi um discurso soturno, furioso e hiperbólico, carecendo de propostas específicas. Um retrato assustador de um país atacado por criminosos e terroristas. Analistas se perfilaram para disparar que se tratou do discurso de aceitação de candidatura mais negativo já feito. Trump reciclou a cantilena de campanha, mas foi razoavelmente organizado na narrativa.

E, muito importante, cortou a massa agitada quando ela começou a gritar “prenda Hillary”, embora, é verdade, não tenha perdoado a rival democrata e o presidente Obama no discurso. Achei bacana o seu acolhimento da comunidade gay. Basta de homofobia.

De resto, reciclagem das promessas nativistas, isolacionistas (America First), protecionistas no comércio e contra imigrantes ilegais. Sim, Trump promete construir um “belo muro” na fronteira com o México. Acabou, porém, a bravata de vedar a entrada de muçulmanos no país. Agora apenas de países de alguma forma vinculados a terrorismo. Que diabos é isto?

Trump não esbalda o otimismo de um Ronald Reagan. Ele transmite o Nixon sombrio e ressentido da campanha de 1968, anunciando ser o “candidato da lei e ordem” num país de caos, violência, uma distopia criada pela dupla Barack e Hillary. Para agravar, um país humilhado no exterior.

O ódio de Hillary Clinton é o grande ponto de unificação de um Partido Republicano dilacerado e em crise de identidade desde que foi capturado pelo pirata Trump.

O ódio é mútuo. Vamos ver o tratamento que Trump receberá na convenção democrata que irá coroar Hillary, na semana que vem, em Filadélfia. Os piores temores estão se confirmando. Esta eleição é um duelo dos negativos, travado por dois dos mais impopulares candidatos da história americana.

Na cabeça dos americanos, basicamente existe o desejo que vença não o melhor, mas o menos pior.

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