O PT tomado pela polícia e o negro que passa de bicicleta

  • Por Reinaldo Azevedo
  • 24/06/2016 12h28

A Polícia Federal cumpre mandado de busca e apreensão como parte da Operação Custo Brasil na sede do Partido dos Trabalhadores Rovena Rosa/Agência Brasil ABR -Polícia Federal cumpre mandado de busca e apreensão como parte da Operação Custo Brasil na sede do Partido dos Trabalhadores em SP - PT

Vejam esta foto, da Agência Brasil. Lidos seus elementos da maneira como devem, a imagem encerra um pequeno ensaio sobre o nosso tempo.

Ao fundo, onde se encontra o foco da imagem, a sede do Partido dos Trabalhadores, em São Paulo, em que predomina o vermelho da distopia socialista. À porta, homens fortemente armados. Naquele momento, a Polícia Federal realizava lá um mandado de busca e apreensão. Ali está a sede do partido que, inequivocamente, chefiou o mensalão e o petrolão, etapas distintas de um mesmo assalto ao poder.

No primeiro plano, um jovem negro passa de bicicleta. É uma personagem incidental. Sua imagem é mais veloz, mas está claro: não é ele a personagem da notícia. E, em se tratando de PT, nunca foi.

Dia desses, num de seus discursos detestáveis, Dilma vituperava contra o governo Temer, formado, segundo ela, de brancos, ricos e velhos. Ao PT, sempre bastou decorar a administração com negros e mulheres para passar, enfim, a impressão de que eles estavam no poder.

Mas quais mulheres? Quais negros? Ora, os que se organizam em sindicatos do pensamento, os que carregam bandeira. Sabem aquele negro que passa, aquele negro incidental, aquele negro sem carteirinha, aquele negro sem pedigree ideológico? Ah, esse não tem importância nenhuma. Afinal, se ele não for um negro petista, um negro militante, um negro sem estandarte, Paulo Henrique Amorim, o jornalista do regime que caiu, poderia tachá-lo de “preto de alma branca”.

O negro de bicicleta se foi, o partido ficou. Ali se tramava contra o futuro do Brasil. Ali se organizava uma das formas do assalto aos cofres públicos que agora vêm à luz com clareza inequívoca: o crédito consignado. Foi um instrumento implementado pela equipe econômica ainda de Palocci para azeitar a economia, mas conferindo razoável garantia de pagamento, o que barateava o custo do dinheiro.

Foi uma ideia do excelente Marcos Lisboa, então secretário de Política Econômica. Da cabeça dos companheiros, convenham, é que não sairia. Eles só sabem tratar de pobre com esmolas. Acham que estes não têm nenhuma contribuição a dar à economia.

Pois bem: aquela que foi, sim, uma das boas ideias do governo Lula estava sendo conspurcada pela companheirada. O eventual benefício que poderia trazer ao negro de bicicleta era só um efeito colateral. Ele não estava no centro das preocupações.

Observem: o PT, com o auxílio de outros partidos, já assaltava o país de maneira organizada, determinada, metódica, profissional nas Petrobras da vida. O crédito consignado, uma das pequenas vantagens obtidas pelos pobres que não dependiam da caridade oficial, poderia, vá lá, com alguma delicadeza da máfia, ter sido preservado da sujeira.

Mas nada escapou. Afinal, o negro de bicicleta passa, vai pro seu trabalho, vai cuidar da vida.

Mas o partido, imaginava-se, permaneceria ali, plantado, sólido, a esmagar pra sempre as nossas chances de futuro.

Que nojo dessa gente!

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