O que é o Brasil de hoje a não ser uma transição do risco para o risco?

  • Por Caio Blinder/ JP Nova Iorque
  • 19/04/2016 14h45
EFE/Fernando Bizerra Jr. Michel Temer e Dilma Rousseff - EFE

Quando se fala da percepção do Brasil em transe aqui no exterior é preciso bater na tecla. O transe é visto com sobriedade, com a perplexidade se sobrepondo à emoção. Concordo que muitas vezes quem vê de fora está por fora, mas não vamos esquecer que muitos analistas estrangeiros estão no Brasil ou bebem em fontes brasileiras.

E eu sempre volto para as fontes habituais no exterior como o jornal Financial Times. Na segunda-feira, a publicação britânica estampava uma típica manchete sobre estes momentos de transe no Brasil. Lá vai: o voto de impeachment de Dilma na Câmara dos Deputados pode ser o o início de uma arriscada transição. Parece um pouco óbvio. Afinal o que é o Brasil de hoje a não ser uma transição do risco para o risco?

Na reportagem, o foco para o alerta é a transição entre a desmoralização de Dilma na Câmara e um voto no Senado que leve Michel Temer formalmente ao poder. E no meio deste caminho minado claro que está um risco chamado Renan Calheiros.

E como de hábito, ecoo a influente consultoria de risco Eurasia. Ela foi cautelosa para aumentar as probabilidades de impeachment de Dilma na Câmara, mas avançou sistematicamente para acertar o desfecho, inclusive na estimativa de números de deputados a favor do impeachment.

No seu relatório na segunda-feira, a Eurasia não vê maiores obstáculos para o Senado acolher a moção da Câmara entre 10 e 12 de maio, mas está de olho no arrefecimento de apoio popular ao impeachment e ao risco da Operação Lava-Jato acertar em cheio o PMDB de Michael Temer. Assim, a Eurasia hoje avalia que existe uma probabilidade de 20% de que o impeachment seja rechaçado no Senado.

Mas como existe a probabilidade de 80% de que o elegante advogado Michel Temer seja adornado com a faixa presidencial, se sucedem os perfis dele na imprensa internacional. O Wall Street Journal o define como um veterano estadista que vai chegando perto do poder. Diz que Temer exalta confiança, mas existem as dúvidas que ele consiga costurar um governo de união nacional.

Mas é a vida, é o ofício de Temer. Nas palavras do Wall Street Journal, Termer é um habilidoso negociador nos bastidores. O jornal, porém, alinha os obstáculos óbvios: a população não morre de amores pelo vice e a máquina de funcionamento da Operação Lava Jato continua a pleno vapor ou, melhor dizendo, movida a delação premiada.

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