O termo da moda é “fake news”

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan
  • 20/12/2016 07h15
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EFE Ucrânia realiza manifestação contra guerra na Síria - EFE

O termo da moda é fake news, as notícias falsas. Nos tempos da União Soviética, isto era a realidade permanente. A piada clássica envolvia os dois jornalões, Pravda e Izvestia. Dizia-se que não havia Notícias, (Izvestia) na Verdade (Pravda), nem Verdade nas Notícias.

Na era Putin, o camarada do presidente-eleito Donald Trump, a verdade sobre as noticias não mudou muito. A imprensa em grandíssima parte é ferrenhamente controlada pelo Kremlin, não passando de um instrumento de agitprop, agitação e propaganda.

E muito ilustrativa é a narrativa sobre a carnificina na Síria, onde Putin se revelou crucial para garantir a sobrevida e agora a consolidação no poder do ditador Bashar Assad após cinco anos de guerra civil. Em duas exposições de fotografia em Moscou, as imagens das cidades de Aleppo e Palmira são bem diferentes daquelas que vemos no resto da imprensa mundial. Ao invés de imagens de destruição e fome, temos crianças saudáveis e sorridentes, em meio aos carros blindados russos.

Na verdade, milhares de pessoas tentam sair de Aleppo, prestes a ficar sob controle total de Assad e de seus aliados, em uma vitória estratégica, enquanto Palmira, que é patrimônio arqueológico da humanidade, acaba de ser retomada pelos terroristas do Estado Islâmico. Um dos motivos? As melhores tropas de Assad e forças especiais russas precisaram ser deslocadas para os combates em Aleppo, alvo da doutrina da terra arrasada, com os bombardeios dos aviões de Putin e Assad.

Na TV russa, a retomada de Aleppo é definida como “libertação”, no jargão típico soviético. Lembram-se quando os tanques entraram em Budapeste e Praga para esmagar insurreições na época da Guerra Fria? A propaganda se estende às escolas. Crianças enviam cartas gloriosas aos soldados russos baseados na Síria. Ao menos, não temos a ficção que marcou a agressão contra a Ucrânia (na Crimeia), no começo de 2014, quando Putin negava a presença dos seus soldados na invasão.

A organização humanitária Capacetes Brancos estima que a última onda de bombardeios russos em Aleppo causou a morte de mais de mil civis, inclusive 400 crianças. Na televisão russa, porém, há imagens apenas de ataques cirúrgicos high-tech e pouquíssimas cenas de devastação de áreas urbanas. E  existem as cenas de pilotos sendo recebidos efusivamente em casa quando retornam das gloriosas missões da Síria sendo libertada dos terroristas e o país de novo sob controle do heróico Bashar Assad.

Conhecemos a verdade sobre as notícias de intervenções soviéticas. São outros tempos, mas Vladimir Putin, ex-coronel da KGB, é herdeiro de gente como Josef Stálin e Leonid Brezhnev.

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