O triunfo de Marine Le Pen
Mesmo com a derrota na eleição francesa deste domingo, Marine Le Pen poderá cantar vitória. Ela tornou legítima a Frente Nacional, o partido com raízes fascistas e antissemitas fundado nos anos 1970 por seu execrável pai, Jean Marie Le Pen.
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A Frente Republicana, consolidada em 2002 e que tapou o nariz para conferir a avassaladora vitoria de Jacques Chirac, contra Jean Marie Le Pen, está mais frouxa. Esquerda e direita não conseguem se unir com o mesmo vigor pragmático 15 anos mais tarde. Para muitos eleitores desencantados com o que está aí, a resposta será a abstenção, criando uma falsa e inquietante equivalência entre Marine Le Pen e o centrista Emmanuel Macron.
Claro que a chance de vitória de Le Pen é remotíssima, mas se marcas psicológicas forem atingidas como ela ser derrotada por menos de 20 pontos ou alcançar o patamar de 40% dos votos, já será uma proeza.
Será a prova do perverso sucesso da Frente Nacional para ser menos fedorenta e “se desintoxicar”. Sua campanha não menciona o sobrenome ou Frente Nacional. Ela fala em preservar a identidade nacional e não mais a raça. Enfatiza que se opõe ao radicalismo islâmico e não a uma religião.
Sempre que ressurge um negador do Holocausto falando pelo partido, ele é removido de maneira fulminante, embora mesmo a candidata tenha tropeçado em abril ao alegar que o estado colaboracionista francês não podia ser responsabilizado pela detenção em massa de judeus na Segunda Guerra Mundial.
Marine (e eu insisto em complementar com Le Pen) . Sua grande jogada é transformar a eleição em um plebiscito sobre a globalização, alvejando Macron como o candidato das elites e ela a campeã da França esquecida.
Faltam algumas horas para eleitores relutantes assumirem com convicção o que está em jogo para a França e o mundo civilizado neste domingo. Não se trata de uma escolha entre a praga e a cólera, mas entre Emmanuel Macron e a praga e/ou cólera.
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