O verdadeiro derrotismo frente ao terror
Como era de esperar, valentões da poltrona estão criticando Katty Kay, a âncora da BBC, que na terça-feira, horas depois do ataque terrorista em Manchester, disse em entrevista a uma tv americana que europeus devem se habituar a terroristas matando suas famílias, pois é impossível erradicá-los totalmente.
Katty Kay foi acusada de derrotista. Eu estou com Katty Kay, a realista. Não podemos criar falsas expectativas. E isso vale para qualquer desafio ingrato na vida pessoal e na sociedade. No entanto, não quero desgalhar a conversa. O foco é terrorismo.
Podemos alvejar serviços de segurança sobre suas falhas na cascata de atentados nos últimos tempos na Europa, podemos ter um debate acalorado sobre como lidar com a religião islâmica, podemos ter uma discussão interminável sobre os motivos que levam um jovem de 22 anos a se explodir numa arena de concertos, matando especialmente jovens e crianças.
No entanto, não podemos acreditar que aceitar a realidade seja uma rendição ao terror. Isto é bobagem. Basta pegar o caso deste terrorista suicida. Sabemos que um estádio, uma arena de concertos ou uma estação de trem são alvos óbvios para um ataque. Como impedir sem margem de erro que o atentado aconteça?
Na semana passada, tivemos o incidente em Times Square, em que um motorista bêbado atropelou a multidão. Não era terror, mas poderia ter sido e olha que Times Square é um dos locais mais bem policiados do mundo.
Katty Kay na sua entrevista à tv americana constatou a realidade política e terrorista óbvia. Os jihadistas estão sendo acuados no seu território no Oriente Médio, no território que eu denomino de Siraque, Síria + Iraque. O incremento de ataques na frente europeia (e em outros partes do mundo) é uma compensação natural para a Internacional Terrorista, cuja face mais visível é o Estado Islâmico.
Mais vigilância? Mais prevenção? Claro que sim. Mas, aqui um número essencial, apenas para ficar na Grã-Bretanha. O MI5, o serviço de inteligência doméstica, está na marcação cerrada de três mil pessoas, consideradas extremistas religiosos, mas tem recursos para ficar de olho constante em cerca de 40 deles. Uma vigilância 24 horas de um suspeito exige 18 agentes. E existem limites em uma sociedade democrática.
Podemos resvalar a conversa para o seguinte ponto: talvez a única maneira de uma sociedade aberta e democrática vencer integralmente o terror é se transformar em um estado policial total. No entanto, aí sim será derrotismo.
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