Obama em Cuba não é gesto tão audaz; 2ª parte da viagem pode interessar mais

  • Por Caio Blinder/ JP Nova Iorque
  • 21/03/2016 12h17
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EFE/Orlando Barría Barack Obama saúda cubanos em sua chegada a Havana neste domingo (20)

Barack Obama está em Cuba, em uma viagem cansativamente definida como histórica. Ele é o primeiro presidente americano na ilha hoje dos irmãos Castro em 88 anos, em uma visita fruto do reatamento de relações diplomáticas entre os dois países. A visita enterra a Guerra Fria na América Latina, mas obviamente não enterra os problemas entre os dois países. Cuba reatou com os EUA, mas segue sendo um parque dos dinossauros, com uma ditadura anacrônica que busca negócios e legitimidade com os ianques.

Já do lado americano, com o Congresso ainda sob controle republicano, o embargo formal continua de pé, embora seja tão anacrônico como a ditadura cubana. Não devemos ter ilusões de que o reatamento em si das relações possa abrir a política cubana. Afinal, o reatamento americano com a China comunista nos anos 1970, na época de Richard Nixon, não abriu a política. A economia chinesa tornou-se dinâmica sob uma ditadura, que sempre fará o que puder para manter o monopólio do poder.

Obama na verdade nunca deu muita bola para a América Latina. Em termos estratégicos, o foco de sua política externa tem sido cair fora da fogueira do Oriente Médio e se dedicar mais para a área do Pacífico. Obviamente, não conseguiu escapar da fogueira. Ironicamente, o reatamento com Cuba ficará como um dos seus grandes legados em política externa. Não vejo, porém, como um gesto tão audacioso assim. As condições históricas eram propícias.

Reatar com Cuba faz parte de um plano estratégico mais ambicioso de Obama no hemisfério. Ele quer enterrar uma história de arrogância de Washington na região e neutralizar uma mentalidade antiamericana tão atrasada. Aqui também o momento é propício com o desmanche de regimes populistas de esquerda. Em alguns casos será mais doloroso do que em outros. Assim, existe a expectativa de que a transição seja menos penosa no Brasil do que na Venezuela.

Obviamente nos Estados Unidos existe muito fascínio com esta visita de Obama à Cuba e menos atenção está sendo dada à escala seguinte, a Argentina, onde Mauricio Macri acabou de celebrar 100 dias de governo, depois do desastre que foi a era Kirchner, que se pautou pelo antiamericanismo barato e demagógico.

Obama estará em Buenos Aires esta semana, nos 40 anos do golpe militar que, como tantos outros, foi apoiado pelos americanos. As ditaduras militares e a ditadura cubana foram parte do mesmo processo histórico. Estar em Buenos Aires no aniversário de uma ditadura apoiada por Washington também significa um esforço de Obama para enterrar o passado. Macri na Argentina é o futuro. A segunda parte da viagem de Obama para mim é mais interessante, mais audaciosa.

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