A onda loira holandesa

  • Por Caio Blinder
  • 15/03/2017 12h52
HAY001b. LA HAYA (HOLANDA), 14/03/2017.- El candidato de la derecha Geert Wilders (PVV) hoy, martes 14 de marzo de 2017, durante un debate televisado en La Haya (Holanda), antes de las elecciones generales programadas para mañana. EFE/ROBIN VAN LONKHUIJSEN EFE/ROBIN VAN LONKHUIJSEN Geert Wilders

A culpa é do Geert Wilders. O líder da extrema-direita holandesa me obriga a falar das eleições parlamentares desta quarta-feira na sua terra, um assunto que em princípio deveria cativar apenas os seus compatriotas. No entanto, a votação é acompanhada com interesse em todas as partes, pois irá medir o tamanho da onda populista, xenofóbica e islamofóbica que assola os dois lados do Atlântico Norte.

Wilders já era Donald Trump antes de Donald Trump e não apenas pela cabeleira esquisita. Seu discurso ao estilo Holanda First é pior até que o do presidente americano, comparando o Corão ao Minha Luta de Hitler, pedindo seu banimento no país e a deportação em massa dos muçulmanos. Nenhuma surpresa que Wilders queira um referendo que decida sobre a permanência da Holanda na União Europeia. E vamos lembrar que o pequeno país participou do nascimento do projeto europeu no pós-guerra.

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A dúvida é se o Partido por Liberdade de Wilders termina em primeiro ou segundo lugar num Parlamento fragmentado com mais de 10 partidos (da eleição participam 28 partidos, inclusive um dos apáticos). O consolo é que ninguém quer formar coalizão com o loiro oxigenado. O cenário mais provável é que o Partido Liberal do primeiro-ministro conservador Mark Rutte permaneça à frente do governo mesmo que termine em segundo lugar, pois terá mais mais margem de negociação para formar o novo governo. Aí serão semanas de entediantes conchavos, que evidentemente eu não acompanharei.

No entanto, vale destacar que Wilders é um vencedor na eleição, não importando quantas cadeiras seu partido fature nesta quarta-feira. Ele estabeleceu a agenda política e cultural na Holanda, um país lendário pela tolerância social. Existe um debate comum na Europa sobre identidade nacional e temor de imigrantes/refugiados, que força partidos conservadores tradicionais a penderem mais para a direita, no esforço de neutralizar a demagogia de gente como Wilders diante de eleitores ansiosos.

Basta ver o primeiro-ministro Mark Rutte, que era um típico conservador europeu, ou seja, conservador fiscal, mas com uma postura mais liberal em questões sociais. No combate ao populismo, Rutte adotou um discurso mais populista e mais duro contra imigrantes, com a seguinte mensagem: adaptem-se ou voltem para casa.

Ele também foi forçado a exagerar no teatro no conflito dos últimos dias com a Turquia, depois que o incendiário presidente Recep Erdogan colocou mais lenha na fogueira ao fazer equivalência entre a democrática Holanda e o nazismo. O bate boca foi gerado pela decisão do governo holandês de não permitir que ministros turcos fizessem campanha no país junto à colônia turca por votos a favor da expansão do poderes de Erdogan no referendo de abril. Rutte e Erdogan encenam para plateias domésticas. O teatro favorece o presidente turco, mas no caso holandês pode render votos para Wilders.

O loiro endiabrado, embora fulgurante, é ator coadjuvante. As atenções maiores no teatro político europeu estão concentradas na loira endiabrada Marine Le Pen e as eleições francesas de abril.

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