Oposição amadurece e chavismo não terá vida longa na Venezuela
Sabemos que com seu presidente podre, os trocadilhos frutificam sobre a Venezuela. Aqui vai mais um: a oposição amadurece. Nunca foi fácil congregar tantos partidos ao longo do espectro político. Claro que o inimigo comum, o chavismo, ajuda, mas a Mesa de Unidade de Democrática, MUD, passou anos atolada nos vacilos, rivalidades internas e picuinhas. Não mais.
O chavismo radicalizou e perdeu de vez os escrúpulos na semana passada ao suspender o referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro. Por alguns dias, a MUD parecia perdida, mas se recompôs. Antes de tudo, não caiu na armadilha do diálogo mediado pelo Vaticano ao qual Maduro se agarrou para ganhar tempo e dividir a oposição. A MUD também soube liderar a massa nos protestos de quarta-feira, La Toma de Venezuela, que foram acima das expectativas.
Agora, tem um cronograma, tem um ultimato. Radicalizou, dando o troco ao chavismo. Haverá mais pressões nas ruas e na Assembleia Nacional (controlada pela oposição) até a próxima quinta-feira. E até lá, será uma eternidade. O plano é marchar rumo ao Palácio Miraflores, no centro de Caracas, bastião chavista.
Será a marcha caso o regime não recue e aceite realizar o referendo, conforme determina a Constituição. Por um tempo, o regime estimou que bastava colocar obstáculos no meio do caminho. Aí decidiu simplesmente fechar o caminho, ciente que o referendo resultará em uma derrota vexaminosa de Maduro. Difícil imaginar que o chavismo se dobre ao ultimato da oposição.
Há também a outra frente de pressão, esta na Assembleia Nacional, com a mobilização para o julgamento político de Maduro. Mas aqui se trata de um lance mais simbólico. O jogo para valer está sendo travado nas ruas.
A ditadura chavista mudou as regras do jogo e o desafio da oposição é radicalizar sem perder o controle da massa ou manter o seu pique. Não é fácil manter um movimento sustentável de protesto nas ruas e tampouco é fácil impedir uma escalada de violência.
O regime também tem o seu jogo. Na quinta-feira, anunciou um aumento de 40% dos salários, na véspera da greve geral desta sexta-feira, convocada pela oposição, e isto num país com inflação anual de 500% e com a economia devastada.
A curto prazo, a linha dura do chavismo se impôs. Além do aumento dos salários, pode vir o da repressão e das provocações das milícias chavistas. O ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, discursou pela televisão na terça-feira em uniforme de combate e terminou sua lenga-lenga com o punho erguido, bradando “vida longa, Chávez”.
Não, o chavismo não terá vida longa. Resta esperar que termine dobrado pelas pressões das ruas e não por uma espiral de violência.
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