Os fantasmas de Nixon e a realidade de Trump

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan Nova Iorque
  • 15/05/2017 07h50
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Montagem - Divulgação/EFE Richard Nixon e Donald Trump - DIV e EFE

Donald Trump é um sujeito instável, mas não se surpreenda com os dados. Ele se preserva em um patamar baixo, porém estável, apesar de tudo. E neste tudo podemos incluir o furor em torno da decisão do presidente de demitir na semana passada o diretor do FBI, James Comey, em meio às investigações da polícia federal americana sobre o possível conluio entre sua campanha eleitoral e os russos.

Na pesquisa divulgada no domingo pelo Wall Street Journal e rede de televisão NBC, 38% dos americanos desaprovam e suspeitam da decisão, enquanto 29% estão com o presidente. Já 1/3 dos americanos não se posicionam.

Em termos mais amplos, a taxa de aprovação de Trump continua melancólica para os padrões americanos, 39% (com 54% de desaprovação). E aqui insisto no apesar de tudo. Sim, o presidente segue no mesmo patamar, mas não despenca graças ao apoio praticamente cego e incondicional de quem votou nele. Enquanto não houver fraturas nesta base, difícil ver o Partido Republicano mostrar sua espinha dorsal diante deste presidente venal.

Como eu disse na semana passada, a decisão de demitir Comey gerou algum desconforto, mas nada de um clima de indignação entre os republicanos. Não estamos em uma situacão nixoniana, como a de 1974, quando o partido simplesmente abandonou o então presidente no escândalo Watergate, forçando a sua renúncia.

Por ora, os fantasmas de Nixon são uma fantasia de opositores de Trump, embora existam componentes nixonianos na decisão de demitir Comey, como possível obstrução de justiça. Talvez a conexão russa de Trump seja um escãndalo em busca de um crime, mas sabemos que muitas vezes o acobertamento se transforma no crime.

Claro que tudo pode mudar rapidamente, pois enquanto o escândalo Watergate ocorreu em câmera lenta, o ritmo Trump é vertiginoso. Dito isso, existem duas diferenças essenciais entre a trama russa e Watergate.

A primeira é a maioria republicana nas duas Casas do Congresso, enquanto durante Watergate os democratas tinham folgado controle, algo essencial para fazer pressão e criar uma comissão especial de investigacão. E a segunda é justamente a resistência republicana para que haja esta investigação independente.

Muito irá depender da capacidade de autodestruição de Trump. Seu pendor para provocações gratuitas e improvisadas, além do desprezo pelas instituições e normas políticas, deixou de surpreender. No Senado, são suficientes três senadores republicanos colocarem os interesses do País acima dos do partido para que os fantasmas de Watergate se tornem mais reais e assustadores para Trump.

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