Os verdadeiros derrotados nos protestos deste domingo

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 01/08/2016 09h02
São Paulo - Manifestação contra o Impeachment da presidenta Dilma Rousseff no Largo da Batata, região oeste (Rovena Rosa/Agência Brasil) Rovena Rosa/Agência Brasil Manifestação contra o Impeachment da presidenta Dilma Rousseff no Largo da Batata

Gosto que lembrem o que escrevi em tempos em que a biruta de analistas varia conforme o calor ou clamor deste ou daquele grupos. No dia 13 de abril do ano passado, escrevi aqui um post sobre a cobertura que parte da imprensa fez do megaprotesto pró-impeachment havido no dia anterior.

Como a manifestação havia sido menor do que aquela que a antecedera, a de 15 de março, então ficou estabelecido que havia sido um parcial insucesso. Discordei da leitura e observei: “Assim, fica estabelecido, dada essa leitura estúpida, que um protesto político só é bem-sucedido se consegue, a cada vez, superar a si mesmo. Isso é de uma tolice espantosa, na hipótese de não ser má-fé. O título do post era bastante eloquente: “MUITOS MILHARES VÃO ÀS RUAS, NO BRASIL INTEIRO, CONTRA O GOVERNO DILMA, O PT E AS ESQUERDAS. CONSTA QUE PLANALTO SUSPIRA ALIVIADO. ENTÃO É MAIS BURRO DO QUE PARECE!”.

Por que isso? Neste domingo, houve manifestações em favor do impeachment e contra. Fosse o caso de tomar como medida do sucesso o número de pessoas nas ruas e se esse número expressasse a vontade da população, teríamos de concluir, junto com os doidos, que caíram tanto a adesão ao impeachment como o número de pessoas que querem que Dilma fique. Seríamos, então, governados pelos anjos. Ou por Satanás. Acontece que nem sempre o número de pessoas nas ruas é um recorte que resume a história — ou melhor: pode até resumir, mas é preciso saber ler.

Se é o caso de falar em derrota, então essa palavra cabe às esquerdas. E assim é por um motivo óbvio: de fato, Dilma está fora da Presidência. Quem carrega o furor militante de contestação, hoje em dia, são os vermelhos. Se a leitura que os esquerdistas fazem da realidade guardasse intimidade com o que sente a esmagadora maioria da população, é claro que, então, eles teriam feito o maior de todos os seus protestos. E sabemos que isso não aconteceu.

Sim, é verdade! Os que marcharam pedindo também o impeachment de Dilma — a pauta principal, pareceu-me, era a apologia do Ministério Público Federal e do juiz Sergio Moro — arregimentaram bem menos pessoas do que em jornadas anteriores. Nesse caso, não cabe a palavra “derrota” porque, convenham, a vitória já aconteceu: na prática, Dilma está fora da Presidência. Ainda que não seja tarefa corriqueira conseguir os 54 votos no Senado para selar seu destino, poucos duvidam dessa possibilidade. E por bons motivos.

De algum modo, a manifestação deste domingo, que teve o Vem Pra Rua como o principal promotor, entra na categoria dos “protestos a favor”. E isso, meus caros, é difícil de realizar em qualquer lugar do mundo. Não vi estimativas confiáveis sobre o número de pessoas nas ruas. Achei que se reuniu mais gente até do que o esperado.

Além de haver esse aspecto de ato pró-statu quo, há elementos conjunturais que explicam a adesão muito menor. A data da manifestação, observei aqui faz tempo, era infeliz: último dia das férias escolares, quando rodoviárias, estradas e aeroportos é que costumam reunir muitos milhares. Quando se marcou a data, imaginava-se que o julgamento fosse acontecer na semana próxima. Já se sabe há algum tempo que ocorrerá só no fim de agosto — a data provável do início é 29.

A manifestação de agora não teve entre seus organizadores movimentos como o MBL (Movimento Brasil Livre) e o NasRuas, entre outros, que atuaram ativamente em jornadas passadas. Segundo li — estava fora do Brasil —, consideraram que a data havia se tornado inoportuna em razão do calendário do impeachment. Esses movimentos defendem um protesto mais próximo do julgamento.

O que eu faria
Este blog defendeu e defende o impeachment, mas pertence ao MBSMR, que é o Movimento dos Blogs sem Movimento de Rua. Se o que escrevo tem alguma utilidade aos que se mobilizam, ótimo! Se não tem, ótimo também. Não tenho vocação pra aiatolá nem digo “o que deve ser feito”. No máximo, torno público o que penso.

E eu penso que não se deve marcar meganifestação nenhuma. Não creio que o dia 21, por exemplo, seja uma boa data. É o encerramento da Olimpíada. Não será um eventual ato no dia 28, na véspera do início do julgamento, que vai mudar o voto dos senadores. Na verdade, protesto a favor tem outro nome: celebração. Que os movimentos de rua convoquem a população para comemorar o impeachment, aí sim! Digamos que o próximo passo sensato, agora, é a festa, que antecede outras lutas árduas.

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