Ou se muda a lei, ou PCC sequestra 2018. Ou: Estar certo é crime!
Nesse Brasil que alguns pretendem “novo” — de certo modo, não deixa de ser —, o pior crime que se pode cometer é o de se estar certo. Especialmente se a maioria dos que se manifestam pensa o contrário. Aliás, antes de você definir se é contra alguma coisa ou a favor, consulte a chamada “voz rouca das ruas”. Se elas derem “likes” para linchamentos, vá lá você mesmo e arranque um naco de carne. Um autêntico guerreiro tem de conhecer o gosto que o sangue tem. Um lídimo representante do povo não pode se pôr acima das paixões de seus liderados, mesmo as mais grotescas…
Que coisa! Nesta segunda, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo, presidente do TSE, fez duas palestras em São Paulo. De manhã, falou no Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis (Sescon) de São Paulo. Antes de sua intervenção, em conversa com a imprensa, lembrou o panorama surrealista ora vivido pelo país no que respeita ao financiamento de campanha. No sistema anterior, das doações privadas com regras frouxas, assistiu-se à captura do estado por potentados privados. Aí o STF, sem o voto de Mendes, decidiu corrigir o problema com um erro estúpido: proibiu as doações privadas. Ocorre que o Congresso não votou fonte alternativa de recursos. Resultado: o crime organizado deitou e rolou nas eleições municipais do ano passado.
Disse o ministro: “Segundo as revelações que agora estão saindo da Lava Jato e da Odebrecht, talvez o caixa dois tenha sido tão forte ou até mais forte do que o caixa um. Imagine o que vai ser uma eleição presidencial quando vamos ter essa corrida de elefantes, com um sistema sem regulação. Esse tema precisa estar na agenda, e esse é o grave problema. Tem que estar na agenda até setembro, por conta do princípio da anualidade”. Lembrando: não se podem mudar as regras das eleições a menos de um ano do pleito.
Ora vejam… É claro que Mendes era favorável a que se mudassem as regras que vigoraram até 2014. Mas também se opôs, a exemplo do que fizeram os sensatos, à proibição da doação de empresas. Especialmente porque estava claro que o Congresso não teria condições políticas de aprovar o financiamento público de campanha. Procurem no arquivo deste blog. Essa também era a minha posição. Afirmei o óbvio algumas centenas de vezes: com a proibição, o que vai prosperar é o caixa dois, com dinheiro oriundo do crime organizado. E é precisamente o que se tem, não é?
Ah, mas a tal voz rouca, sabem cumé… Era contra a doação privada e o financiamento público. E já se disse aqui que um líder popular tem de saber de que sangue se alimentam seus liderados…
Cabe ao Congresso votar uma lei que ponha alguma ordem na casa. Ou as coisas vão à breca. Pensem no atual cenário de terra arrasada da política. As organizações partidárias tradicionais estão cheias de escoriações. O terreno está aberto a toda sorte de pistoleiros e aventureiros, que vão sair por aí vociferando contra tudo o que se move sobre duas patas e não tenha pena ou pelo…
Os políticos têm receio de propor o financiamento público — e eu, de fato, sou contra, mas não em razão desse ódio cretino à política que anda por aí. Eles também temem defender o financiamento privado. Logo vai aparecer um boçal para acusá-lo de defensor de empreiteiras.
Tudo o mais constante, as coisas ficam como estão hoje. E aí a campanha presidencial de 2018 poderá contar com o luxuoso auxílio do crime organizado, incluindo o PCC, a exemplo do que se viu em 2016.
O ministro alertou para essa possibilidade quando a coisa estava em votação no Supremo. Eu escrevi incontáveis textos a respeito.
Mas já estava em curso esse novo valor da civilização que consiste em agredir quem tem razão porque, afinal, diz verdades inconvenientes.
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