Para o sonho americano, próxima eleição deve trazer desilusão

  • Por Caio Blinder
  • 14/07/2016 09h56
Michael Vadon / Wikimédia Communs  e Hillary Clinton.com Donald Trump e Hillary Clinton
 Para quem torce pelo melhor nos Estados Unidos da América, são dias desoladores de desunião, de dicotomia e de polarização. Eleição presidencial claro que acirra os ânimos, especialmente quando na arena estão figuras como Donald Trump e Hillary Clinton. 
Os dois partidões, o Republicano e o Democrata, preparam o espetáculo das convenções. Na semana que vem, será a republicana em Cleveland e, na seguinte, a democrata em Filadélfia.
E, como parte do ritual, estão aí as propostas para as plataformas partidárias a serem aprovadas nas convenções e nas quais ficam escancaradas as diferenças. Na verdade, os dois partidos se radicalizam. Os republicanos para a direita e os democratas para a esquerda, ecoando a vontade das bases. E ambas são guinadas populistas.
Os republicanos se distanciam da sua tradicional postura a favor do livre comércio e a plataforma reflete o pendor protecionista da sua base e do candidato Donald Trump, que acena com guerra comercial contra países como a China. O consolo é que não existe um repúdio específico a tratados de livre comércio em curso, como a Nafta, ou sendo negociados, como o Transpacífico.
Há também apoio à construção de um muro na fronteira com o México, embora seja um projeto inviável. A plataforma promete incrementar a penalização para imigrantes ilegais e também colide com as irrefreáveis mudanças sociais no país, repudiando o casamento gay, além do rechaço integral do aborto.
Na margem democrata, existe também uma guinada acentuada. As ideias da base estão à esquerda de Barack Obama e do próprio Bill Clinotn, marido de Hillary. As propostas são um pacote de bondades, prometendo maciços investimentos públicos e incentivos fiscais. 
Para ter o endosso do velho socialista Bernie Sanders, seu rival nas primárias, a ex-secretária de Estado topou um DNA bem populista na plataforma, como generosos subsídios educacionais e o aumento do salário mínimo para 15 dólares à hora.
O enfoque do programa é muito mais sobre como redistribuir recursos em função das crescentes desigualdades sociais no país do que como gerar crescimento. Outro notável componente no rascunho da proposta democrata é um liberalismo social ainda mais acentuado.
Fica claro que as plataformas partidárias ecoam frustrações dos eleitores, ressentimento contra as elites e os desejos de concretizar sonhos sociais e econômicos que, pelo irrealismo, deverão resultar em ainda mais desilusão popular.

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