As perguntas sem resposta na morte do promotor argentino

  • Por Jovem Pan
  • 21/01/2015 12h11
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EFE Argentinos protestam na Praça de Maio

Reinaldo, há muitas perguntas sem resposta no caso da morte de Alberto Nisman, promotor argentino, né?

O jornal Clarín publicou um texto em que aponta cinco questões sem resposta que cercam a morte do promotor Alberto Nisman, que acusava a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, de acobertar a participação do Irã em atentados contra a comunidade judaica no país. Nisman, divorciado e com duas filhas, deveria apresentar nesta segunda, no Congresso, as provas que dizia ter, mas apareceu morto, em seu apartamento, com um tiro na cabeça, disparado por uma arma calibre 22, num aparente suicídio. Às questões levantadas pelo jornal, acrescento algumas outras.

O que se passou entre a tarde de sábado e a manhã de domingo? E que é um tal Diego? Pessoas das relações de Nisman e jornalistas tiveram contato com ele durante a tarde de sábado, inclusive Waldo Wolff, vice-presidente da DAIA (Delegação de Associações Israelitas Argentinas). Ele exibiu uma foto que o promotor lhe enviou no sábado, às 18h27. Na tarde do mesmo dia, um tal Diego Lagomarsino, especialista em informática e suposto colaborador de Nisman, disse ter levado ao promotor, a pedido deste, a pistola Bersa, calibre .22, de onde saiu o tiro que o matou. Nota: Lagormarsino se apresentou espontaneamente à Polícia.

Tão logo se noticiou a morte de Nisman, Sérgio Berni, secretário de Segurança Nacional da Argentina, afirmou que este tinha a proteção de dez guarda-costas. Bem, eram dois grupos de cinco, que se alternavam. Como é que tal Lagomarsino teria conseguido furar esse bloqueio com uma arma? Pois é. No sábado, o promotor teria dispensado a sua guarda pessoal. Pediu que fossem buscá-lo apenas no domingo, às 11h30. Primeira estranheza: se ele estava na antevéspera do grande momento – apresentar as provas contra Cristina Kirchner e seu chanceler, Hector Timerman -, a segurança deveria ser sido reforçada, não relaxada, certo?

E as demoras? Os guardas dizem ter chegado às 11h30 de domingo e tentando, sem sucesso, contato com Nisman. Só teriam ligado pra ele de novo às 13h30 – convenham: por que tanta espera para alguém que era um potencial alvo? Às 14h, telefonaram para a sua secretária, que também não conseguiu falar com o chefe. A mulher procura, então, a mãe de Nisman, pede que um dos guardas busquem a senhora em sua casa e ruma para o edifício do promotor. Atenção: a perícia indica que Nisman levou um tiro às 15h. Logo, durante todo esse tempo, estaria vivo e sem responder aos chamados.

Os agentes chegaram com a mãe da vítima às 17h30, mas só subiram ao apartamento, que estaria fechado por dentro, às 19h. As estranhezas não param por aí. Só se anunciou que Nisman estava morto à 0h10 de segunda.

O que aconteceu nestas mais de cinco horas? Notem que, entre a chegada dos policiais e o anúncio da morte, passaram-se quase 14 horas – e mais de nove desde a presumida hora da morte. O kirchnerista Sérgio Beni, o tal Secretário Nacional de Segurança, chegou à cena do crime antes da promotora Viviana Fein e do juiz Manuel De Campos, encarregados da investigação. Beni se antecipou e, antes mesmo da perícia, deu como praticamente certo que se tratou de suicídio.

E a pólvora? Não há pólvora na mão de Nisman, o que, em tese, é possível no caso de disparo de uma arma .22. Será que basta isso para descartar que o promotor tenha sido vítima de alguma pressão externa? A perícia descartou, em princípio, a participação de uma segunda pessoa na ação em si. A família se nega a aceitar a hipótese de suicídio. Atenção: no apartamento do promotor, havia uma lista de supermercado que ele havia deixado para a sua empregada. Quem elabora uma lista de compras domésticas antes de se matar?

Nisman era judeu. O suicídio é considerado uma grave transgressão, e os que atentam contra a própria vida são enterrados numa área isolada, própria, nos cemitérios judaicos. A comunidade israelita argentina está determinada a sepultar o corpo do promotor entre os das 85 vítimas do atentado à Amia, praticado pelo Hazbollah, em 1994, com patrocínio do Irã. Para os judeus da Argentina, Nisman é a 86ª vítima fatal daquele atentado. É o que eu também acho.

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