Pessimismo de agentes influencia S&P em rebaixamento de nota do Brasil

  • Por Jovem Pan
  • 25/03/2014 11h27

Reinaldo, a agência de classificação de risco Standard & Poor´s rebaixou a nota do Brasil, da Eletrobras e da Petrobras. Porque você diz que o pessimismo dos agentes econômicos teve interferência direta nesse rebaixamento? E que a questão é também política?

Eu explico. Entre os dias 10 e 13 de março Lisa Schineller, diretora da Standar & Poor´s, esteve no Brasil com a sua equipe conversando com representantes do setor privado. Uma agência de riscos, que avalia a capacidade de pagamentos de governos e empresas, analisa os números, os dados técnicos, mas pesam também os fatores, digamos, humanos, políticos.

Se há uma crença generalizada, de que o governo e as empresas vão fazer tudo certo, ainda que os números não estejam muito bons, a tendência é adiar o rebaixamento na expectativa de uma melhora. Se, ao contrário, a maioria aposta que o governo e os dirigentes de empresas vão fazer tudo errado, então os números negativos ganham valores absolutos e há o rebaixamento. Foi o que aconteceu.

Lisa e sua equipe colheram dos agentes econômicos do setor privado as piores impressões. Pouca gente confia no governo, e esse é um problema grave. O que é a chamada classificação de risco? As agências avaliam se há a possibilidade de o país, ou as empresas em questão, darem calote na sua dívida. Quando concluem que não há, o país passa para a categoria de “grau de investimento”. Ocorre que dentro dessa categoria positiva há níveis, há degraus.

No caso da Standard & Poor´s há dez. O menor bom degrau da S&P é BBB- e o maior é AAA. Quanto mais alto estiver o país, menos juros ele paga para financiar suas operações no mercado internacional. O Brasil estava, segundo a classificação da S&P, no penúltimo dos bons degraus, BBB. Agora passou para o último dos bons, BBB-.

Qual é a dificuldade? Abaixo do BBB- já se entra no grupo dos pagadores de risco, que é chamado “grau especulativo”. Também aí há degraus, no caso são onze. O melhor dos piores é BB+ e o pior dos piores é C. Segundo a Standard & Poor´s, o governo brasileiro está perdendo margem de manobra e está mais exposto a choques externos.

Escreve a agência: “a perspectiva de baixo crescimento reflete fatores cíclicos e estruturais, concluindo o nível de 18% de investimentos em relação ao PIB, isto de fato é muito baixo”. A S&P também rebaixou o rating global da Petrobras e da Eletrobras.

A primeira, como o Brasil, passou do triplo “B” para o triplo “B” negativo, mesma queda sofrida pela Eletrobras em moeda estrangeira. Em moeda nacional, a estatal do setor elétrico caiu de A- para triplo “B”. As agências de classificação entraram em descrédito depois de 2008 por não terem antecipado a crise das hipotecas nos Estados Unidos. Não sem razão, por isso mesmo elas têm sido mais rigorosas em suas avaliações.

O governo vinha recorrendo a uma verdadeira guerra de propaganda para tentar evitar rebaixamentos das agências. Até o ex-ministro Delfim Neto, que já foi um saco de pancada do petismo, entrou em campo. Delfim chegou a afirmar na semana passada, logo depois da passagem de Lisa por aqui, que estava convicto de que a Standard & Poor´s não rebaixaria o Brasil porque o país fará o superávit de 1,9% do PIB e porque , segundo disse, a presidente Dilma teria mudado, estando disposta a corrigir o preço dos combustíveis e da energia elétrica. O que levaria a uma redução do consumo, afastando o risco de apagão.

Parece que os representantes da S&P que andaram por aqui, depois de ouvir o setor privado, depois de analisar o noticiário e depois de conversar com autoridades do governo, ficaram bem menos otimistas do que Delfim. No ranking da S&P agora, o Brasil está a um nível do “grau especulativo”. A gente pode fazer uma de duas coisas: xingar as agências ou torcer para o governo arrumar as contas. Prefiro a segunda opção.

 

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