Pingo Final: Comportamento da plateia brasileira na ginástica de solo foi detestável
Como é mesmo? O segredo de aborrecer é dizer tudo. E fazê-lo ainda que, quase unanimemente, se diga o contrário. E fico muito à vontade para isso. Quando havia um evidente espírito de porco com a Olimpíada e se apontava o risco de um vexame, escrevi aqui achar que o Brasil faria bonito.
Está lá: “Acho que a abertura da Olimpíada será, sim, bacana e emocionante. Aposto que a maioria das disputas se dará sem incidentes e que, ao fim de tudo, vai se considerar que o país fez bonito. Assim foi com a Copa do Mundo.” Fui além: “Assim, meu bom brasileiro, vibre com os Jogos. Tenho a confiança de que dará quase tudo certo. De zero a dez, a nota final ficará perto de nove.”
Como se vê, não estou entre os rabugentos com a Olimpíada, como não era com a Copa do Mundo. Ao contrário: acho que é preciso parar com essa bobagem de que tudo sempre dará errado, como se um destino certo nos espreitasse nas trevas. Mas é evidente que não vou condescender, também, com comportamentos pouco civilizados.
Aqui e ali alguns atletas estrangeiros, especialmente de disputas individuais, reclamaram do comportamento da torcida. Não sou um fanático dos esportes, o tema está longe de ser minha leitura predileta, e, de fato, me ocupo bem pouco dos Jogos. Mas assisti neste domingo à disputa de solo dos ginastas, que acabou resultando em duas medalhas para atletas brasileiros: prata para Diego Hypólito e bronze para Arthur Nory.
Torci, a exemplo de todo brasileiro, para os esportistas do meu país. O desempenho de Diego, em particular, depois de duas jornadas malsucedidas, justifica a emoção, embora eu ache que os nossos atletas devem chorar menos. Mas deixo agora isso pra lá. Quero me ater a outro ponto.
Uma coisa, meus caros, é a torcida vibrar com a excelente performance dos dois brasileiros. E eu aplaudia junto! Outra, distinta, como se viu, é gritar de forma cretina e deseducada quando atletas de outros países estão se apresentando. Os gritos de felicidade que se ouviram a cada erro dos norte-americanos Jacob Dalton e Sam Mikulak e do japonês Kenzo Shirai evidenciam um espírito muito pouco esportivo. Eles são nossos convidados.
Notem: sei que as arenas esportivas, de algum modo, são metáforas da guerra, não é?, ainda que o espírito olímpico seja o do congraçamento. Acho natural que, nas disputas de esportes coletivos, de times contra times, haja vibração a cada acerto da equipe pela qual se torce e a cada erro dos adversários. Nas apresentações individuais, no entanto, o comportamento há de ser outro.
Basta ver as respectivas reações dos públicos chinês ou inglês nas quedas de Hypólito em Pequim e Londres. Eu me lembro claramente. Nos dois casos, ouviu-se um “ohhh” de pesar, não um grito de satisfação. Infelizmente, a imprensa esportiva condescendeu com os urros da plateia. Não faz o menor sentido ficar gritando o nome do atleta brasileiro enquanto se apresenta o de um outro país; é inaceitável que o erro de um competidor estrangeiro seja saudado com grito de euforia.
Felizmente, a organização dos Jogos não fica nada a dever aos que de melhor se fez mundo afora, com contratempos mínimos. Nunca pensei que fosse diferente.
A gente melhora como país quando sabe reconhecer as próprias virtudes e mostra disposição para corrigir os erros. “Ah, Reinaldo, disputas esportivas não são apresentação de música de concerto.” Sei disso e nem peço comportamento semelhante. Mas acho inaceitável que se urre se satisfação quando um atleta, que se preparou durante quatro anos, sofre uma queda.
Bonito a plateia fez quando aplaudiu Hypólito e Nory. Uma das obrigações da imprensa esportiva é também educar o público. E não urrar junto.
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