Pingo Final: Comportamento da plateia brasileira na ginástica de solo foi detestável

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 15/08/2016 10h40
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HHY01. Rio De Janeiro (Brazil), 06/08/2016.- Diego Hypolito of Brazil performs on the floor during the Men's qualification for the Rio 2016 Olympic Games Artistic Gymnastics events at the Rio Olympic Arena in Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, Brazil, 06 August 2016. (Brasil) EFE/EPA/HOW HWEE YOUNG EFE/EPA/HOW HWEE YOUNG Diego Hypólito - EFE

Como é mesmo? O segredo de aborrecer é dizer tudo. E fazê-lo ainda que, quase unanimemente, se diga o contrário. E fico muito à vontade para isso. Quando havia um evidente espírito de porco com a Olimpíada e se apontava o risco de um vexame, escrevi aqui achar que o Brasil faria bonito.

Está lá: “Acho que a abertura da Olimpíada será, sim, bacana e emocionante. Aposto que a maioria das disputas se dará sem incidentes e que, ao fim de tudo, vai se considerar que o país fez bonito. Assim foi com a Copa do Mundo.” Fui além: “Assim, meu bom brasileiro, vibre com os Jogos. Tenho a confiança de que dará quase tudo certo. De zero a dez, a nota final ficará perto de nove.”

Como se vê, não estou entre os rabugentos com a Olimpíada, como não era com a Copa do Mundo. Ao contrário: acho que é preciso parar com essa bobagem de que tudo sempre dará errado, como se um destino certo nos espreitasse nas trevas. Mas é evidente que não vou condescender, também, com comportamentos pouco civilizados.

Aqui e ali alguns atletas estrangeiros, especialmente de disputas individuais, reclamaram do comportamento da torcida. Não sou um fanático dos esportes, o tema está longe de ser minha leitura predileta, e, de fato, me ocupo bem pouco dos Jogos. Mas assisti neste domingo à disputa de solo dos ginastas, que acabou resultando em duas medalhas para atletas brasileiros: prata para Diego Hypólito e bronze para Arthur Nory.

Torci, a exemplo de todo brasileiro, para os esportistas do meu país. O desempenho de Diego, em particular, depois de duas jornadas malsucedidas, justifica a emoção, embora eu ache que os nossos atletas devem chorar menos. Mas deixo agora isso pra lá. Quero me ater a outro ponto.

Uma coisa, meus caros, é a torcida vibrar com a excelente performance dos dois brasileiros. E eu aplaudia junto! Outra, distinta, como se viu, é gritar de forma cretina e deseducada quando atletas de outros países estão se apresentando. Os gritos de felicidade que se ouviram a cada erro dos norte-americanos Jacob Dalton e Sam Mikulak e do japonês Kenzo Shirai evidenciam um espírito muito pouco esportivo. Eles são nossos convidados.

Notem: sei que as arenas esportivas, de algum modo, são metáforas da guerra, não é?, ainda que o espírito olímpico seja o do congraçamento. Acho natural que, nas disputas de esportes coletivos, de times contra times, haja vibração a cada acerto da equipe pela qual se torce e a cada erro dos adversários. Nas apresentações individuais, no entanto, o comportamento há de ser outro.

Basta ver as respectivas reações dos públicos chinês ou inglês nas quedas de Hypólito em Pequim e Londres. Eu me lembro claramente. Nos dois casos, ouviu-se um “ohhh” de pesar, não um grito de satisfação. Infelizmente, a imprensa esportiva condescendeu com os urros da plateia. Não faz o menor sentido ficar gritando o nome do atleta brasileiro enquanto se apresenta o de um outro país; é inaceitável que o erro de um competidor estrangeiro seja saudado com grito de euforia.

Felizmente, a organização dos Jogos não fica nada a dever aos que de melhor se fez mundo afora, com contratempos mínimos. Nunca pensei que fosse diferente.

A gente melhora como país quando sabe reconhecer as próprias virtudes e mostra disposição para corrigir os erros. “Ah, Reinaldo, disputas esportivas não são apresentação de música de concerto.” Sei disso e nem peço comportamento semelhante. Mas acho inaceitável que se urre se satisfação quando um atleta, que se preparou durante quatro anos, sofre uma queda.

Bonito a plateia fez quando aplaudiu Hypólito e Nory. Uma das obrigações da imprensa esportiva é também educar o público. E não urrar junto.

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