Pingo Final: Governo tenta emparedar Temer e fazê-lo defender Dilma

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 04/12/2015 11h11
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SÃO PAULO, SP, 19.10.2014: DEBATE-PRESIDENTE - Michel Temer (PMDB) - O senador Aécio Neves (PSDB) e a presidente Dilma Rousseff (PT), que disputam o segundo turno das eleições à Presidência, participam do debate da TV Record, neste domingo (19) em São Paulo. (Foto: Rodrigo Dionisio/Frame/Folhapress) Frame/Folhapress Michel Temer (PMDB) no debate entre Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) no dia 19/10/2014

O Planalto, quem diria?, descobriu a súbita importância de Michel Temer, vice-presidente da República e comandante do PMDB. Incrível, não? Em agosto, sem condições de fazer o trabalho de coordenação política porque sabotado por petistas, ele teve de deixar o cargo. A presidente obedecia, então, às orientações estratégicas de Aloizio Mercadante… Agora, ela está sob o cerco do lulismo.

O Planalto quer constranger o vice a entrar de corpo e alma na luta contra o impeachment, que é uma forma de tentar inviabilizá-lo como alternativa de poder. Temer é um homem experiente. Espero que não caia no truque.

Sim, ele tem os deveres institucionais de lealdade — e não lhe cabem mesmo saliências, apresentando-se, na seara política, como alternativa à mandatária, mas, constitucionalista que é, sabe que tem de zelar por seu papel institucional: se ela vier a ser apeada do poder pelo impeachment, será ele o presidente da República.

E, por óbvio, não cabe ao vice ignorar essa condição e colar-se à imagem da presidente, como se graves responsabilidades não possam vir a lhe pesar sobre os ombros. Ora, ora… Dilma teve tantas chances, antes, de manter por perto o vice-presidente, não é? Mas preferiu o caminho contrário.

Nesta quinta, Temer afirmou um enigmático “espero que ao final deste processo, o país saia pacificado”. É o que lhe cabe dizer. Não dá para ir muito além disso. Paz, pra valer, sem grupos descontentes nas ruas, não haverá. A questão é avaliar se aqueles que protestam estão com a maioria ou com a minoria.

Presidente e vice se encontraram nesta quinta. As versões de petistas e peemedebistas não coincidem em nada — nem no tempo de duração da reunião. O ministro Jaques Wagner (Secretaria de Governo), numa ousadia que beira o absurdo, decidiu se comportar como porta-voz do peemedebista. Disse: “Assim como nós, Temer não vê nenhum lastro para esse processo de impeachment”. Até onde se sabe, o vice tem boca e pode falar por conta própria o que quiser, quando quiser.

Espero que Temer resista, seja prudente e não caia nessa conversa. Os dias que vêm pela frente não serão fáceis. O descontentamento nas ruas é crescente, e o próprio governo desenha cenários que podem degenerar em conflitos sociais em razão da crise.

O vice-presidente certamente tem claro que deve se preservar como alternativa de poder, em vez de se jogar de cabeça no poço sem fundo da reputação petista.

A esta altura, é só uma questão de responsabilidade.

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